Logo da rainha Queen Med, dominando os sites médicos, conhecimento

TROMBOEMBOLISMO VENOSO ( TEV)  - TRATAMENTO

Recomendações gerais

O tratamento de TEV é realizado por etapas, havendo uma variedade de opções, conforme a disponibilidade do medicamento, condição de estabilidade do paciente, histórico de trombocitopenia induzida por heparina ou hipersensibliidade e função renal do paciente.

 

As principais opções envolvem : 

- Heparinas de baixo peso molecular;

- Heparinas não fracionadas por via venosa;

- Heparinas não fracionadas por via subcutânea;

- Fondaparinux

- Antagonistas da vitamina K. 

- Novos anticoagulantes 

 

Falaremos das etapas do tratamento assim como detalhes das estratégias:

 

1a. ETAPA - Sugere-se, como tratamento inicial para pacientes com TEv agudo, confirmado ou suspeito, em pacientes ESTÁVEIS, a utilização de qualquer um dos seguintes agentes:

 

  • Heparina de baixo peso molecular ( a mais usada é a Enoxaparina), via subcutânea  ou
  • Heparina não-fracionada, via intravenosa --> Tratamento de escolha para pacientes com DCE ≤ 30 ml/min e para pacientes instáveis (persistentemente hipotensos), com risco aumentado de sangramento, quando preocupação com absorção subcutânea (em geral obesos com IMC > 35) ou quando trombólise estiver sendo cogitada ou
  • Heparina não fracionada, via subcutânea, sem necessidade de monitorização de KTTP
  • Fondaparinux.

 

2a. ETAPA - Sugere-se, como tratamento de manutenção, pelo tempo determinado de acordo com a condição de base, a utilização de qualquer um dos seguintes agentes:

 

  • Heparina de baixo peso molecular (Enoxaparina)
  • Antagonistas da vitamina K (Varfarina): Deve ser utilizada em conjunto com Enoxarapina, Heparina não-fracionada ou Fondaparinux por, no  mínimo, 5 dias e até que o INR esteja dentro da faixa-alvo (entre 2,0 e 3,0), por, pelo menos, 24h.  Tratamento com antagonistas da vitamina K, clique aqui
  • "Novos anticoagulantes": Exemplo, Dabigatrana e Rivaroxaban. Ver novos anticoagulantes. Clique aqui

Tratamento inicial em pacientes ESTÁVEIS e com função renal normal, sem história de trombocitopenia induzida por heparina

 

HEPARINAS

A heparina ( marca mais conhecida Liquemine), é um conjunto de mucopolissacarídeos que atuam como co fator que aumenta a atividade da Enzima Antitrombina III. Esta enzima  degrada os fatores da coagulação ( II, IX, X) e principalmente a Trombina. Portanto a heparina  age, em ultima análise, reduzindo o fatores pró coagulantes  através da Antitrombina III.

 

  • De onde é Produzido?

A Heparina Sódica é obtida através da mucosa intestinal suína ou de pulmão bovino. Por este motivos, muitos dos leitores irão lembrar da falta de Liquemine no mercado mundial há 2 – 3 anos. O fato decorria de contaminação da matéria prima suína de procedência Chinesa e que poderia provocar reações adversas graves e até morte relacionada a medicação finalizada.

 

A) Heparina de baixo peso molecular (Enoxaparina), via subcutânea (SC)

 

Há evidências de que o peso dos pacientes é subestimado no Serviço de Emergência e deste modo são utilizadas subdoses de enoxaparina de acordo com o dosagem do fator anti-Xa. As ampolas de enoxaparina possuem a apresentação de 20, 40, 60 e 80 mg. Somente as ampolas de 60 e 80 mg são milimetradas, deste modo é possível administrar a dose correta de enoxaparina de acordo com o peso e não doses “aproximadas”.

 Posologia

 

  • 1 mg/Kg, via subcutânea, de 12/12h (esquema preferencial) ou 1,5 mg/Kg, via subcutânea, uma vez ao dia;
  • Evitar em pacientes com creatinina > 2,0 ou DCE < 30 ml/min;
  • Não há necessidade de monitorização laboratorial.

 

Situações especiais :

Em idosos acima de 75 anos: 0,75 mg/Kg SC de 12/12 horas;

Em pacientes com função renal estável e clearance de creatinina entre 10-30 ml/min:  1 mg /Kg SC 1 vez ao dia;

Em pacientes com lesão renal aguda (clerance de creatinina<10ml/min). Não utilizar enoxaparina. Utilizar preferencialmente HNF. Em obesos: usar 1 mg /Kg SC 12/12 horas até 144 Kg* acima de 144 Kg.

COMO MONITORAR O USO DE ENOXAPARINA A monitorização é realizada através da dosagem do fator anti Xa. Não é necessária dosagem do fator anti Xa para todos os pacientes. Considera-se o paciente anticoagulado se anti Xa entre 0,6 – 1,0 unidades/ml.

Recomenda-se no caso de:

1- Gestantes;

2- Pacientes com IRC (Clearance de Creatinina <30ml/min)*;3- Obesos

B) Heparina não fracionada, sem necessidade de monitorização do KTTP, via subcutânea

  • Dose inicial, em bolus, 5000UI, via intravenosa, seguida de duas doses diárias (12/12h) de 250 UI/Kg/dose, via subcutânea, ou
  • Dose incial, de 333 UI/Kg, via subcutânea, seguido de duas doses diárias (12/12h) de 250 UI/Kg/dose, via subcutânea.

 

 

C) Heparina não fracionada, via intravenosa (IV):

  • 80 UI/Kg em bolus, via intravenosa; iniciar, após, com infusão a 18 UI/Kg/h (diluir 5000 UI (1 ml) em 99 ml de solução fisiológica (0,9%) ou solução glicosada 5% - concentração de 50 UI/ml);
  • Monitorizar com KTTP, solicitando umas vez a cada 6h nas primeiras 24h, e, após, a cada 24h. Quando estável/dentro do alvo por 48h pode ser solicitado a  cada 48h;
  • Agente preferencial em pacientes com perda de função renal (especialmente se Creatinina > 2,0 e/ou DCE < 30 ml/min) e/ou em pacientes obesos, com IMC > 30;
  • Deve-se procurar manter entre 1,6 e 2,3 vezes o KTTP/TTPA do controle.
  • Como diluir?

As Diluições sugeridas para a maioria das indicações é:

– Heparina Sódica  ( 5000 UI/ml) –  25.000 UI  ou 5 ml

– Solução Glicosada 5%  245ml

Concentração final da Solução: Heparina 100 UI /ml 

 

Ou

– Heparina Sódica  ( 5000 UI/ml) –  12.500 UI  ou 2,5 ml

– Solução Glicosada 5%  247ml

Concentração final da Solução: Heparina 50 UI /ml 

Administrar em bomba de infusão contínua.

 

OBS: Sempre avaliar a plaquetometria antes de iniciar heparinização pela possibilidade de plaquetopenia induzida por heparinas.

Os ajustes de dose devem ser feitos conforme o nomograma - tabela 1

 

Tabela 1: Doses de Heparina Não Fracionada Utilizadas em Anticoagulação Plena .  Raschke RA et al, 1996.

heparinização para o site tev.jpg

CUIDADOS  QUANTO A HEPARINIZAÇÃO PLENA VENOSA

1. A solução deve ser agitada a cada 6 horas para evitar precipitação da heparina no frasco. A solução tem estabilidade de 24 horas. Trocar solução e equipo a cada 24 horas.

2.  Dose inicial 80 U/kg em bolus, seguida da infusão contínua de 18 U/kg/h.

3 - Coletar o TTPA (tempo de tromboplastina parcial ativada) 6 horas após o início da infusão, bem como 6 horas após cada ajuste. Após 2 horários consecutivos de controle com os exames dentro da faixa terapêutica desejada, a coleta dos exames poderá ser realizada a cada 12 horas,

4. De maneira geral o TTPa alvo varia entre 50 e 70 segundos.

Outro parâmetro de avaliação de anticoagulação é a dosagem de níveis plasmáticos de heparina que devem  ficar entre 0,35 a 0,7 Uinidade/ml.

5. A partir do 5 dia de heparinização é necessário dosagem de plaquetas pelo risco de plaquetopenia induzida por heparina e repetida a cada 3 dias até pelo menos o 14º dia, o que a partir desta data se reduz o risco desta complicação.

 

Tratamento inicial em pacientes ESTÁVEIS, com história de trombocitopenia induzida por heparina ou outra contraindicação para uso de heparina

  

 Fondaparinux, via subcutânea (SC), sem necessidade de monitorização (tempo de tratamento usual: 5-9 dias, mas já foi utilizado por até 26 dias)

  • Ajustar dose de acordo com peso:
    • < 50 Kg: 5 mg, uma vez ao dia;
    • 50-100 kg: 7.5 mg, uma vez ao dia;
    • >100 kg: 10 mg, uma vez ao dia.
  • Ajuste de acordo com a função renal:
    • Clcr 30-50 mL/minuto: cautela. Sugere-se a utilização de heparina de baixo peso molecular ou utilizar 50% da dose de Fondaparinux adequada para o peso (esta recomendação está adaptada da recomendação do American Chest Physicians de 2012 para profilaxia de tromboembolismo venoso).
    • Clcr < 30: não administrar.

Como reverter a anticoagulação com uso de heparinas. Clique aqui

 

FONTES

 

Raschke RA, Reilly BM, Guidry JR, Fontana JR, Srinivas S.The weight-based heparin dosing nomogram compared with a “standard care” nomogram. A randomized controlled trial. Ann Intern Med. 1993;119(9):874-81.
Guyatt GH, Akl EA, Crowther M, Gutterman DD, Schuünemann HJ, . Executive summary: Antithrombotic Therapy and Prevention of Thrombosis, 9th ed: American College of Chest Physicians Evidence-Based Clinical Practice Guidelines. Chest 2012 Feb;141(2 Suppl):7S-47S.
Terra-Filho M, Menna-Barreto SS, . [Recommendations for the management of pulmonary thromboembolism, 2010]. J Bras Pneumol 2010 Mar;36 Suppl 1:S1-68

http://www.iepmoinhos.com.br/iprotocolos/publico/protocolos/informacoesQuadrinho/6906

https://www.hcrp.usp.br/revistaqualidade/uploads/Artigos/186/186.pdf

https://cardiopapers.com.br/heparinizacao/

http://utianestesiaunifesp.com.br/uti/arquivos/Protocolo%20e%20Procedimentos%20Operacionais/Protocolo%20-%20Controle%20de%20hepariniza%C3%A7%C3%A3o%20plena%20na%20UTI.pdf

Raschke RA, Gollihare B, Peirce JC. The effectiveness ofimplementing the weight-based heparin nomogram as a practiceguideline. Arch Intern Med. 1996;156:1645-9.