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Investigação da síndrome do anticorpo antifosfolípide 

Considerações iniciais

O diagnóstico depende da associação de critérios clínicos e laboratoriais, que foram recentemente revisados.

A síndrome do anticorpo antifosfolípide (SAF) caracteriza-se por uma combinação de tromboembolismo, complicações obstétricas e presença de um ou mais anticorpos antifosfolípides (aFL) circulantes, como anticoagulante lúpico (AL), anticardiolipina (aCL) e anti-ß2-glicoproteína I (anti-ß2-GPI).

O diagnóstico da SAF requer a associação de, pelo menos, um critério clínico e um critério laboratorial comprovado por exames feitos em duas ocasiões distintas, com um intervalo de mais de três meses e menos de cinco anos.

A investigação laboratorial tem papel fundamental na confirmação da SAF, não só pela obrigatoriedade na demonstração de anticorpos aFL, mas também por estudar outras possíveis causas de tromboembolismo. Ademais, a síndrome é classificada conforme a combinação de auto-anticorpos encontrada, podendo ser :

tipo I (mais de um tipo de auto-anticorpo envolvido),

tipo IIa (AL isolado),

tipo IIb (aCL isolado) ou;

tipo IIc (anti-ß2-GPI isolado).

Vale destacar que o uso do termo SAF secundária tem sido desencorajado, visto que não há diferenças clínicas entre as formas primária e secundária da doença.

Além dos critérios diagnósticos usuais, há outras características clínicas e laboratoriais que podem estar associadas à SAF, embora não sejam específicas:

Clínicos

• valvulopatia cardíaca;
• livedo reticular;
• trombocitopenia;
• nefropatia;
• manifestações neurológicas;

Laboratoriais 
• anticorpos anticardiolipina (aCL)  e anti-ß2-glicoproteína  (anti-ß2-GPI) da classe IgA;
• antifosfatidilserina, antifosfatidiletanolamina,
• antiprotrombina e anticomplexo protrombina/fosfatidilserina.

Diagnóstico laboratorial dos principais anticorpos 

1.  Anticoagulante Lúpico -  presente no exame de sangue em duas ou mais ocasiões com intervalo de no mínimo 12 semanas, detectado de acordo com as recomendações da Sociedade Internacional de Trombose e Hemostasia.

2. Anticorpo anticardiolipina IgG e/ou IgM em títulos moderados a altos (>40 GPL ou MPL) em duas ou mais ocasiões, com intervalo de no mínimo 12 semanas. O teste deve ser ELISA padronizado.

3. Anticorpo anti-Beta2 GPI IgG ou IgM detectado no exame de sangue em duas ou mais ocasiões, com intervalo de no mínimo 12 semanas. O teste deve ser ELISA padronizado.

                      Principais anticorpos 

1.  Anticoagulante Lúpico 

2. Anticorpo anticardiolipina IgG e/ou IgM ELISA padronizado.

3. Anticorpo anti-Beta2 GPI IgG ou IgM r ELISA padronizado.

Critérios revisados para a classificação de SAF (Sidney, 2005)

Clínicos
1 - Trombose vascular (venosa ou arterial) objetivamente comprovada por imagem ou histopatologia e sem evidência de inflamação na parede dos vasos.
2 - Complicações gestacionais:
• Ocorrência de uma ou mais mortes intra-uterinas de feto com morfologia normal, a partir da 10ª semana gestacional
• Nascimento de um ou mais prematuros (com menos de 34 semanas) com morfologia normal, tanto em decorrência de eclampsia/pré-eclampsia grave quanto de evidência objetiva de insuficiência placentária
• Ocorrência de três ou mais abortos espontâneos consecutivos antes da 10ª semana gestacional, excluindo-se anormalidades anatômicas e hormonais, bem como anomalias cromossômicas maternas e paternas

 

Laboratoriais*
1 - Presença do anticoagulante lúpico
2 - Identificação de anticorpos anticardiolipina das classes IgG ou IgM (acima de 40 GPL ou MPL ou em título > percentil 99)
3 - Encontro de anticorpos anti-ß2-glicoproteína I das classes IgG ou IgM (em título > percentil 99)

 

* Comprovados por exames realizados em duas ocasiões distintas, com um intervalo de mais de três meses e menos de cinco anos.

 

Pontos relevantes na interpretação do resultado dos anticorpos antifosfolípides

A presença de múltiplos auto-anticorpos aFL parece ter associação com maior gravidade da doença e com risco trombótico mais elevado.
• A ocorrência de trombose pode interferir nos níveis de anticorpos aFL. Portanto, o teste não deve ser solicitado com menos de 12 semanas após um evento dessa natureza.
• Um resultado positivo de aFL que tenha sido realizado mais de cinco anos depois das manifestações clínicas não deve ser considerado.
• Não está estabelecido se os títulos dos anticorpos se relacionam com a atividade ou com o controle da SAF.
• Os anticorpos aFL podem surgir transitoriamente devido a episódios infecciosos e ao uso de determinados fármacos.

 

Características dos auto-anticorpos antifosfolípides

Anticardiolipina (aCL)

• A classe IgM pode dar resultados falso-positivos, especialmente em baixos títulos e na presença de fator reumatóide e crioglobulinas
• A classe IgA não traz informações adicionais

 

Anticoagulante lúpico (AL)

• Tem melhor correlação com trombose e com morbidade gestacional do que os anticorpos aCL

 

Anti-ß2-glicoproteína I (anti- ß2-GPI)

• O teste é mais reprodutível e mais específico para a SAF que o de aCL
• É o único anticorpo detectado em 3-10% dos casos de SAF
• A classe IgA não é considerada um fator de risco independente para a SAF na ausência de outros isotipos deste auto-anticorpo

 

Antifosfatidiletanolamina e antiprotrombina isolada ou combinada com fosfatidiletanolamina•

A associação de tais anticorpos com perda fetal e tromboembolismo não está estabelecida

Fontes

https://www.fleury.com.br/medico/artigos-cientificos/investigacao-da-sindrome-do-anticorpo-antifosfolipide-revista-medica-ed-900

https://www.reumatologia.org.br/orientacoes-ao-paciente/sindrome-antifosfolipide/

https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/hematologia-e-oncologia/dist%C3%BArbios-tromb%C3%B3ticos/s%C3%ADndrome-de-anticorpos-antifosfolip%C3%ADdeos-sap