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MANEJO APÓS CPRE

Considerações iniciais

Após a realização de uma Colangiopancreatografia Retrógrada Endoscópica (CPRE), o manejo do paciente é crucial para monitorar possíveis complicações e garantir uma recuperação adequada. A CPRE é um procedimento complexo que, embora seja minimamente invasivo, carrega riscos, sendo a pancreatite pós-CPRE a complicação mais comum e séria.

Monitoramento Pós-CPRE Imediato (Primeiras Horas)

O paciente será levado para uma área de recuperação onde será monitorado de perto.

Sinais Vitais: Monitoramento contínuo de frequência cardíaca, pressão arterial, frequência respiratória e saturação de oxigênio. Alterações podem indicar complicações como sangramento ou infecção.

Nível de Consciência: Avaliação da recuperação da sedação.

Dor Abdominal: É o sintoma mais importante a ser monitorado. Uma dor leve ou desconforto é comum, mas dor abdominal intensa, progressiva ou que irradia para as costas pode ser um sinal de pancreatite.

Náuseas e Vômitos: Também são comuns, mas persistentes podem indicar complicações.

Distensão Abdominal: Avaliação da presença de inchaço abdominal.

Sangramento Gastrointestinal: Observar sinais de sangramento, como vômito com sangue ou fezes escuras (melena). Pequenos sangramentos na papila podem ocorrer e geralmente param espontaneamente.

Diurese: Monitorar a produção de urina.

 

Exames Laboratoriais (Conforme Indicação):

Amilase e Lipase: Níveis séricos devem ser medidos 4 a 6 horas após o procedimento e, às vezes, novamente em 12-24 horas, especialmente se houver suspeita de pancreatite. Um aumento significativo (geralmente 3 vezes o limite superior da normalidade) é um indicador precoce.

Hemograma: Para verificar hemoglobina (em caso de sangramento) e leucócitos (em caso de infecção).

Eletrólitos e Função Renal/Hepática: Para avaliar o estado geral do paciente.

Manejo da Alimentação

Jejum Inicial: O paciente geralmente permanece em jejum por algumas horas (2 a 6 horas) após a CPRE. Isso ajuda a reduzir o estímulo pancreático e o risco de pancreatite.

Dieta Leve Progressiva: Se não houver sinais de complicações, a dieta é iniciada com líquidos claros, progredindo para uma dieta leve e, finalmente, para a dieta normal. Evitar alimentos gordurosos ou pesados nas primeiras 24 horas pode ser recomendado.

 

Manejo da Dor

Analgesia: Medicamentos para dor são administrados conforme a necessidade, começando com analgésicos mais leves e progredindo para opióides se a dor for mais intensa. É importante distinguir a dor pós-procedimento comum da dor de uma complicação séria.

Prevenção de Complicações (Se Aplicável)

Pancreatite Pós-CPRE:

Hidratação Intravenosa: A hidratação agressiva com soro fisiológico logo após a CPRE é uma medida profilática comprovada para reduzir o risco de pancreatite, especialmente em pacientes de alto risco.

Indometacina/Diclofenaco Retal: A administração de um anti-inflamatório não esteroide (AINE) retal (geralmente indometacina ou diclofenaco) imediatamente antes ou após o procedimento é outra medida eficaz em pacientes de risco médio a alto.

Canulação Seletiva e Redução de Manobras: A experiência do endoscopista e a minimização de injeções de contraste no ducto pancreático também são importantes.

Antibióticos: Podem ser administrados preventivamente em casos de suspeita de obstrução biliar com colangite (infecção das vias biliares) ou em pacientes com próteses biliares, mas não são rotina para todos os casos.

 

Orientações para Alta Hospitalar

A maioria dos pacientes pode receber alta no mesmo dia se o procedimento foi tranquilo e não houver sinais de complicações. No entanto, pacientes de alto risco ou com intercorrências podem precisar de internação por 24 horas ou mais.

Sinais de Alerta: O paciente deve ser instruído sobre os sinais de alerta que exigem retorno imediato ao hospital, como:

Dor abdominal intensa e persistente.

Febre ou calafrios.

Náuseas e vômitos persistentes.

Icterícia (pele e olhos amarelados) recente ou piora da existente.

Sangue nas fezes ou fezes muito escuras e pegajosas.

Medicações: Instruções sobre o uso de medicamentos prescritos (analgésicos, antieméticos).

Dieta: Reforçar a progressão dietética.

Repouso: Recomendar repouso relativo nas primeiras 24 horas.

Acompanhamento: Agendar consulta de acompanhamento com o médico para revisão.

Principais Complicações a Serem Monitoradas

Pancreatite Pós-CPRE: A complicação mais comum, variando de leve a grave. Dor abdominal intensa, vômitos e elevação de amilase/lipase são os principais indicadores.

Sangramento: Pode ocorrer no local da papilotomia (corte na papila para acesso) ou em biópsias. Pode ser leve ou exigir intervenção.

Perfuração: Rara, mas grave. Pode ocorrer no duodeno, esôfago ou estômago. Sinais incluem dor intensa, febre, distensão e sinais de peritonite.

Infecção (Colangite): Especialmente em pacientes com obstrução biliar não resolvida ou drenagem inadequada. Apresenta-se com febre, calafrios, icterícia e dor no quadrante superior direito.

Em resumo, o manejo pós-CPRE exige vigilância, especialmente para a detecção precoce de pancreatite. A comunicação clara com o paciente sobre os sintomas a serem observados é fundamental para uma recuperação segura.