FAN OU ANTICORPOS CONTRA ANTIGENOS CELULARES
Considerações iniciais
O Teste de Anticorpos Antinúcleo, mais conhecido como Fator Antinúcleo (FAN ou FAN-HEp-2) e, mais recentemente denominado de “Pesquisa de Anticorpos Contra Antígenos Celulares” (PAAC) trata-se de um excelente exame de rastreamento de autoanticorpos em soro de pacientes com suspeita de doenças autoimunes, principalmente Lupus Eritematoso Sistêmico (LES).
Nesse sentido, um fator importante a ser considerado é o título do FAN-HEp-2. Em geral, os pacientes autoimunes tendem a apresentar títulos moderados (1/160 e 1/320) e elevados (≥ 1/640), enquanto os indivíduos sadios com FAN-HEp-2 positivo tendem a apresentar baixos títulos (1/80). Entretanto, em ambas as situações pode haver exceções. Outro ponto de grande importância é o padrão de fluorescência, que fornece uma indicação da identidade do(s) autoanticorpo(s) em questão e deve ser analisado com bastante cautela, levando-se em consideração a experiência do observador. Como exemplo, é possível citar os padrões de fluorescência nuclear pontilhado grosso e nuclear homogêneo, quase sempre associados a um contexto de autoimunidade sistêmica. Por outro lado, o padrão nuclear pontilhado fino denso é um dos mais frequentemente observados em pessoas não autoimunes com exame positivo de FANHEp-2 .
O que devemos nos atentar no exame do FAN?
A interpretação do exame de ser feita por um profissional, como o reumatologista. No entanto, aqui estão algumas dicas gerais para entender os resultados do teste FAN:
Titulação
O resultado do FAN é relatado como uma diluição, como 1:40, 1:80, 1:160, etc. Essa diluição indica a última diluição do soro do paciente na qual ainda detectamos anticorpos. Quanto maior a diluição, maior a quantidade de anticorpos presentes.
Padrão de fluorescência
O teste FAN utiliza células do tecido humano que são coradas com um corante fluorescente. O padrão de fluorescência observado sob um microscópio indica os alvos dos anticorpos presentes no soro. Os padrões de fluorescência podem ser homogêneos, pontilhados, nucleares, citoplasmáticos, entre outros. Cada padrão pode estar associado a diferentes doenças autoimunes.
Títulos significativos
Os títulos de FAN considerados clinicamente significativos variam dependendo da doença em questão.
Por exemplo, um título de 1:320 ou superior pode ser relevante para o lúpus eritematoso sistêmico, enquanto um título de 1:40 pode ser considerado insignificante.
Correlação clínica
A interpretação dos resultados do FAN deve ser feita em conjunto com os sintomas clínicos e outros exames complementares. O FAN não é diagnóstico por si só, mas ajuda a direcionar a investigação e a confirmar o diagnóstico quando combinado com informações clínicas.
Variações individuais
É importante reconhecer que os resultados do FAN podem variar de pessoa para pessoa. Algumas pessoas saudáveis podem ter resultados positivos em baixos títulos sem ter uma doença autoimune. Portanto, a interpretação deve levar em consideração o contexto clínico e outros exames relevantes.
Padrões nucleares de FAN mais frequentes e suas correlações clínicas
Quanto aos padrões mais comumente encontrados com as possíveis correlações clinicas, confira abaixo:
- Anti-DNA de cadeia dupla (ds-DNA, DNA Nativo) Padrão: Homogêneo
Encontrados primariamente no LES numa frequência de 70 a 80% dos casos;
Concentração de antígenos (título) correlaciona-se bem com a atividade da doença;
Presença de anticorpos anti-DNA correlaciona-se particularmente com a atividade da nefrite lúpica.
- Anti-Histona Padrão: Homogêneo
Estão presentes em 96% dos pacientes com lupus induzido por medicamentos e em 30% do LES.
Hidralazina, Procainamida e anticonvulsivantes;
Ocorre em 15 a 20% dos pacientes com AR.
- Anti-snRNP Padrão: Pontilhado (grosso)
Altos títulos de RNP, na ausência de anti-Sm, são fortemente sugestivos de doença mista do tecido conjuntivo (DMTC). As DMTC se manifestam clinicamente por acometimento cutâneo do tipo esclerodérmico, miosite e sinovite tipo reumatóide, onde aparece em 100% dos casos.
Aparece em baixos títulos no:
LES
Lupus discóide
Artrite reumatóide
Síndrome de Sjogren
Lupus induzido por medicamentos
- Anti-Sm (Smith, nome do primeiro paciente reconhecido) Padrão Pontilhado (grosso)
Possui alta especificidade para o LES, porém sua sensibilidade nestes pacientes é de apenas 25 a 30 %, geralmente durante a fase aguda da doença. Raramente aparece em outras desordens.
Alguns estudos associam a sua presença com nefrite branda de surto benigno, outros o associam com envolvimento do SNC, quando manifestação única do LES.
- Anti-SSa/Ro Padrão pontilhado (fino)
Ro é uma proteína citoplasmática pequena ligada ao RNA, cuja função é desconhecida. Este anticorpo está presente em cerca de 70% dos pacientes com síndrome de Sjogren primária. Já na Sj associada a artrite reumatóide está presente em 40% dos casos. Também ocorrem em 30% dos pacientes com LES, onde marca as formas de lupus neonatal, lupus subagudo cutâneo e na síndrome do anticorpo antifosfolípide.
Anti-SSb/La Padrão pontilhado (fino)
São contra partículas protêicas do RNA que parecem participar como um co-fator para a RNA polimerase;
O anti-La geralmente acompanha o anti-Ro;
A presença de ambos no LES geralmente associa-se a uma doença mais leve do que quando o Ro está presente isoladamente; O SSb/La ocorre em mais da metade dos pacientes com Sj e no LES em 15%.
- Anti- centrômero Padrão pontilhado centromérico
Esclerose sistêmica forma CREST:
C/calcinose
R/Raynaud
E/dismotilidade esofagiana
S/esclerodermia
T/telangectasia.
- Anti-Scl-70 Padrão nucleolar
Recentemente, pesquisadores identificaram uma proteína de 70 kDa que funciona como uma topoisomerase e que foi detectada em 75% dos pacientes com esclerose sistêmica difusa.
- Anti PCNA Padrão pontilhado pleomórfico PCNA
Específico para LES (5 a 10% dos casos) não sendo encontrado em outras patologias.
Geralmente pacientes com PCNA positivo apresentam maior incidência de glomerulonefrite difusa.
PESSOAS SAUDÁVEIS COM FAN
Alguns padrões de IFI não guardam associação específica com doenças reumáticas autoimunes, podendo mesmo ser detectados em indivíduos sadios.
Entre esses, se destacam o padrão pontilhado fino com título baixo (1/80 a 1/160) e pontilhado fino denso (em qualquer título), pois representam mais de 50% dos testes positivos na rotina de um laboratório clínico geral.Padrão nuclear pontilhado fino denso (AC-2)
O padrão nuclear pontilhado fino denso (AC-2) é dentre todos os padrões de FAN aquele que se destaca por frequentemente estar positivo em pessoas saudáveis, principalmente se estiver associado à presença de anticorpos anti-LEDGF/p75.
Muitos laboratórios já fazem automaticamente a pesquisa dos anticorpos anti-LEDGF/p75 quando o resultado do FAN é padrão nuclear pontilhado fino denso. Isso porque mesmo em títulos bem altos, iguais ou superiores a 1/1280, um FAN com padrão nuclear pontilhado fino denso e com anticorpos anti-LEDGF/p75 não indica a presença de nenhuma doença autoimune.
O FAN pode estar positivo transitoriamente. Nesses casos, suspeita-se de infecções virias como:
Vários medicamentos podem induzir a uma condição lupóide e títulos de FAN elevados que, usualmente decrescem após a retirada do medicamento. Drogas que geralmente estão associadas com FAN positivo incluem:
Uso de corticoide ou outra terapia imunossupressora também pode levar a resultados de FAN negativos. Nesses casos, é necessário repetir o exame três meses após a retirada do medicamento.
O soro de pacientes com qualquer doença reumática pode conter muitos auto anticorpos para diferentes constituintes nucleares;
Fonte: ANApatterns.org, site oficial do Consenso Internacional de Anticorpos Antinúcleo (ICAP).
O próprio padrão do FAN costuma estar associado a autoanticorpos específicos, por exemplo:
Autoanticorpos contra alguns antígenos têm associação bastante específica com determinadas doenças autoimunes ou ao estado de autoimunidade em si, enquanto outros ocorrem, indiscriminadamente, em indivíduos autoimunes e não autoimunes.
Fontes :
http://www.moreirajr.com.br/revistas.asp?id_materia=3500&fase=imprime
http://csvlab.com.br/FAN.pdf
https://sanarmed.com/dicas-para-a-interpretacao-dos-resultados-de-fator-antinuclear-fan-colunistas/
https://www.mdsaude.com/doencas-autoimunes/fan-fator-antinuclear/