Imunoprofilaxia na hanseníase e monitoramento de contatos
Considerações iniciais
Recomenda-se ofertar imunoprofilaxia aos contatos de pacientes com hanseníase, maiores de um ano de idade, não vacinados ou que receberam apenas uma dose da vacina BCG. A comprovação da vacinação prévia deve ser feita por meio do cartão de vacina ou da presença de cicatriz vacinal. Esses pacientes necessitam ser orientados para o automonitoramento e encorajados a realizar o relato voluntário imediato de sinais sugestivos de atividade da doença. Os contatos diagnosticados com hanseníase devem ser encaminhados para iniciar a PQT-U. Contatos de hanseníase que possuam sorologia anti-PGL-1 positiva e que não apresentem critérios para o diagnóstico clínico ou laboratorial da doença deverão ser avaliados anualmente nas unidades básicas de saúde.
A revacinação com BCG é contraindicada nas seguintes situações:
› Portadores de imunodeficiência primária ou adquirida;
› Pacientes acometidos por neoplasias malignas;
› Pacientes em tratamento com corticosteroides em dose elevada (equivalente à dose de prednisona de 2mg/kg/dia para crianças até 10kg ou de 20mg/dia ou mais, para indivíduos acima de 10kg) por período superior a duas semanas;
› Gestantes
Uma parte fundamental do controle da hanseníase, já que a doença é transmissível e o contato intradomiciliar é o maior fator de risco.
Monitoração e imunoprofilaxia de contatos de hanseníase
🔎 1. Quem são os contatos prioritários?
Contatos intradomiciliares (moradores da mesma casa).
Contatos sociais próximos (convivência frequente, como trabalho ou escola, dependendo da intensidade).
🩺 2. Avaliação clínica dos contatos
Exame dermatoneurológico completo: busca de lesões de pele hipoestésicas, espessamento de nervos, alterações sensitivas.
Periodicidade:
Primeira avaliação no momento do diagnóstico do caso-índice.
Depois, avaliação anual por 5 anos, mesmo que assintomático.
💉 3. Imunoprofilaxia
🔹 Vacina BCG
A BCG (a mesma usada contra tuberculose) também protege parcialmente contra hanseníase.
Esquema em contatos, segundo o Ministério da Saúde (Brasil):
Se 0 cicatrizes de BCG → aplicar 1 dose.
Se 1 cicatriz de BCG → aplicar 1 dose de reforço.
Se 2 cicatrizes de BCG → não aplicar.
🔹 Profilaxia com antibiótico (PEP – Post-Exposure Prophylaxis)
Desde 2021–2022, o Brasil incorporou a recomendação da OMS de usar rifampicina dose única para contatos elegíveis.
💊 Quando indicar quimioprofilaxia (PEP – Post-Exposure Prophylaxis)?
👉 Indicar rifampicina dose única (SDR – Single Dose Rifampicin) em:
Contatos de casos de hanseníase (intradomiciliares e peridomiciliares)
Assintomáticos, ou seja:
Sem lesões de pele suspeitas
Sem alterações neurológicas compatíveis com hanseníase
Após terem sido avaliados clinicamente e, se necessário, descartada a doença ativa.
🚫 Quando NÃO usar quimioprofilaxia?
Crianças < 2 anos
Gestantes e lactantes
Casos com suspeita ou diagnóstico de hanseníase ativa
História de alergia grave à rifampicina
Portadores de tuberculose ativa ou infecção latente não tratada (para não induzir resistência)
Portadores de hepatopatias graves
Pessoas já em uso regular de rifampicina por outra indicação
💉 Esquema utilizado no Brasil
Adultos: Rifampicina 600 mg VO dose única
Crianças de 2 a <10 anos: 10–15 mg/kg (máx. 300 mg) dose única
Adolescentes ≥10 anos: mesma dose do adulto (600 mg)
📊 4. Acompanhamento e monitorização
Manter contato cadastrado no sistema de vigilância.
Exame clínico anual por 5 anos.
Orientar a procurar atendimento imediato se surgirem manchas, dormências, formigamentos, caroços dolorosos.
Em locais com recursos, pode-se considerar testes rápidos (ML Flow) para identificar risco aumentado em contatos.
Teste rápido imunocromatográfico para detecção de anticorpos IgM contra o M. leprae
Diversas técnicas vêm sendo utilizadas para a detecção de anticorpos anti-PGL-1: o enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA), o teste de hemaglutinação passiva (PHA) e o teste de aglutinação com partícula de gelatina (MLPA), além da criação de testes sorológicos simplificados para uso no campo, como o ML dipstick70 e o teste rápido de fluxo lateral (ML Flow). O PGL1 induz à formação de anticorpos das classes IgG e IgM, cuja pesquisa é o parâmetro sorológico mais padronizado e avaliado na hanseníase.
Tem-se demonstrado que a detecção desses anticorpos pode indicar a presença de infecção subclínica pelo M. leprae ou doença ativa. Em indivíduos acometidos pela hanseníase, a titulação de anticorpos séricos se correlaciona com a carga bacilar.
O ML Flow é um teste imunocromatográfico que detecta anticorpos IgM contra o antígeno PGL-1 (antígeno glicolipídeo-fenólico 1 (PGL-1), um antígeno imunogênico específico do M. leprae) do M. leprae, tanto em amostras de soro humano como em sangue total. É um teste rápido, de uso individual e de fácil execução, que pode ser realizado diretamente pelos profissionais de saúde sem a necessidade de equipamentos laboratoriais. Os reagentes são altamente estáveis e podem ser armazenados em temperatura ambiente. O teste baseia-se na ligação dos anticorpos do paciente ao antígeno PGL-1, imobilizado em membrana porosa de nitrocelulose, por onde a amostra biológica passará durante a execução do teste.
A sorologia anti-PGL-1 tem se mostrado útil no monitoramento da eficácia terapêutica como marcador de recidiva e para a identificação de contactantes com maior risco de desenvolver a doença, além de auxiliar na classificação operacional de pacientes para fins de tratamento. Ressalta-se que a detecção de anticorpos anti-PGL-1 não pode ser utilizada isoladamente como um teste diagnóstico para hanseníase, tendo em vista que indivíduos saudáveis podem apresentar sorologia positiva, ao passo que casos confirmados, especialmente os paucibacilares, podem ter sorologia negativa. Por outro lado, o teste apresenta alta sensibilidade para casos multibacilares, o que o torna muito útil no diagnóstico diferencial de pacientes com lesões cutâneas numerosas, infiltração difusa da pele e/ou extenso comprometimento de nervos periféricos.
Fontes
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_pratico_hanseniase.pdf
https://www.saude.df.gov.br/documents/37101/572829/Protocolo+de+Atendimento+a+Pacientes+Portadores+de+Hansen%C3%ADase+do+Distrito+Federal.pdf/0e2dc4a7-02bd-cafa-d291-b4e23710be4d?t=1649023229595
https://www.saude.ce.gov.br/wp-content/uploads/sites/9/2022/05/BCG_notatecnica_29092022.pdf
https://dive.sc.gov.br/phocadownload/notas-informativas/notas-informativas-2021/NI006.pdf