Cateter Central de Inserção Periférica (PICC)
Considerações iniciais
A inserção de um Cateter Central de Inserção Periférica (PICC) é um procedimento médico que deve ser realizado por profissionais de saúde treinados e certificados (geralmente enfermeiros especializados ou médicos), seguindo rigorosas técnicas assépticas e protocolos de segurança.
Passo a Passo da Inserção de um Cateter PICC:
1. Preparação Pré-Procedimento:
Avaliação do Paciente:
Verificar a indicação do PICC e possíveis contraindicações (ex: infecção local, trombose prévia no membro, linfedema).
Revisar exames laboratoriais (coagulação).
Obter o consentimento informado do paciente ou responsável, explicando o procedimento, riscos e benefícios.
Reunião do Material:
Preparação do Paciente:
Posicionar o paciente de forma confortável (geralmente em decúbito dorsal - deitado de costas - com o braço estendido e abduzido).
Garantir a iluminação adequada.
Higienização das Mãos e Paramentação:
Lavagem cirúrgica das mãos, colocação de avental estéril, luvas estéreis, máscara e gorro.
2. Localização e Antissepsia da Veia:
Seleção da Veia: Com o auxílio do ultrassom, localizar a veia mais adequada no braço (geralmente veia basílica, cefálica ou braquial). O ultrassom é crucial para identificar a melhor veia, avaliar seu calibre, curso e evitar punção arterial ou nervosa.
Antissepsia da Pele: Realizar a degermação da área de inserção com a solução antisséptica, seguindo a técnica padronizada (movimentos circulares de dentro para fora, aguardando o tempo de secagem).
Colocação de Campos Estéreis: Delimitar a área de trabalho com campos estéreis para manter um ambiente cirúrgico.
Como Medir o Comprimento do PICC
Para usar um Cateter Central de Inserção Periférica (PICC), um passo fundamental é medir o comprimento correto do cateter antes da inserção. Essa medição é feita externamente no corpo do paciente para estimar a distância do local de punção no braço até o ponto desejado no coração (a junção cavo-atrial, onde a veia cava superior se encontra com o átrio direito).
Posicionamento do Paciente:
O paciente deve estar deitado (decúbito dorsal). O braço que será utilizado para a inserção (geralmente o direito, se possível, para um caminho mais direto para a veia cava superior) deve estar abduzido (afastado do corpo) em um ângulo de aproximadamente 90 graus e com a palma da mão para cima (supinação). Esta posição simula a posição do braço durante a inserção e minimiza a chance de deslocamento da ponta do cateter com o movimento do braço após a inserção.
Identificação do Local de Inserção:
O profissional escolhe o local ideal para a punção no braço, que geralmente é na fossa antecubital (dobra do cotovelo) ou no terço médio do braço, utilizando o ultrassom para identificar a veia adequada.
Realização da Medição:
Usando uma fita métrica flexível e descartável (que será esterilizada ou usada sobre a pele limpa), o profissional mede a distância a partir do local de punção escolhido no braço.
A fita métrica é então passada pelo lado externo do braço, subindo em direção ao ombro, passando pela região do ombro e clavícula. Descendo pela parede torácica, até o terceiro espaço intercostal (na altura da terceira costela), logo à direita do esterno, ou até a altura da junção esternoclavicular (onde o esterno se encontra com a clavícula) ou até o ângulo de Louis (uma proeminência no esterno, que corresponde ao segundo espaço intercostal), dependendo do protocolo da instituição e do referencial anatômico adotado.
Marcação do Cateter:
A medida obtida (em centímetros) é então marcada no corpo do cateter PICC. Alguns cateteres já vêm com marcações numéricas ao longo do seu comprimento. Essa marcação indica o quanto do cateter precisa ser inserido para que a sua ponta atinja a posição central desejada.
Na grande maioria dos casos, o cateter PICC precisa ser cortado para o comprimento adequado do paciente. Os cateteres PICC vêm de fábrica em um comprimento padrão (geralmente entre 40 e 60 centímetros). No entanto, a distância do local de inserção no braço do paciente até a posição ideal da ponta na junção cavo-atrial (perto do coração) varia de pessoa para pessoa, dependendo da anatomia individual.
Por que o cateter é cortado?
Posicionamento Correto da Ponta: O corte garante que a ponta do cateter fique exatamente na posição desejada (na junção cavo-atrial), o que é essencial para a segurança, eficácia do tratamento e para evitar complicações. Se o cateter for muito longo, ele pode ir para dentro do átrio direito ou ventrículo, causando irritação cardíaca e arritmias. Se for muito curto, não estará em uma veia central, o que pode aumentar o risco de trombose, flebite ou extravasamento de medicamentos irritantes.
Redução de Complicações: Um comprimento excessivo do cateter dentro da veia pode aumentar o risco de trombose e irritação vascular.
Como o corte é feito?
O corte é realizado antes da inserção do cateter na veia do paciente. É feito com uma tesoura ou lâmina de corte específica e estéril, fornecida pelo fabricante do cateter. Essa ferramenta é projetada para fazer um corte preciso e limpo, sem danificar o lúmen ou a integridade do material do cateter. Todo o processo de medição e corte deve ser realizado sob condições estéreis rigorosas, como parte do procedimento de inserção do PICC, para evitar qualquer contaminação.
3. Anestesia Local e Punção Venosa:
Anestesia Local: Infiltrar a pele e o tecido subcutâneo com anestésico local para minimizar o desconforto do paciente durante a punção.
Punção da Veia: Guiado pelo ultrassom em tempo real, o profissional insere uma agulha fina na veia selecionada, visualizando a entrada da agulha no lúmen venoso. A confirmação do retorno venoso de sangue é essencial.
4. Inserção do Cateter:
Passagem do Fio-Guia: Após a punção bem-sucedida, um fio-guia flexível é inserido através da agulha e avançado pela veia.
Retirada da Agulha e Inserção do Introdutor/Dilatador: A agulha é removida, e um introdutor (um pequeno tubo plástico com um dilatador dentro) é passado sobre o fio-guia. O dilatador é removido, deixando o introdutor no lugar.
Passagem do Cateter PICC: O cateter PICC é então inserido através do introdutor e avançado suavemente pela veia. A técnica pode variar (alguns cateteres já vêm com fio-guia e introdutor acoplados, ou são passados diretamente após o fio-guia).
Avanço do Cateter: O cateter é avançado até a sua ponta atingir a posição ideal em uma veia central (geralmente na junção cavo-atrial, que é o ponto de encontro entre a veia cava superior e o átrio direito do coração).
5. Fixação do cateter:
O cateter é fixado à pele para evitar migração ou saída acidental, utilizando-se um dispositivo de fixação sem sutura (mais comum para reduzir riscos de picadas de agulha e infecção) ou suturas.
Curativo Estéril: Um curativo transparente oclusivo e estéril é aplicado sobre o local de inserção e fixação, garantindo a proteção contra infecções.
Flush: As lúmens do cateter são preenchidos com solução salina (e, por vezes, um agente bloqueador como heparina ou citrato, dependendo do protocolo) para manter a permeabilidade e evitar coágulos.
Quando fazer o flush?
O flush deve ser realizado em momentos chave:
Antes da administração de qualquer medicamento ou solução.
Após a administração de qualquer medicamento ou solução (para limpar o lúmen).
Antes e depois da coleta de amostras de sangue.
Periodicamente (a cada 8, 12 ou 24 horas, dependendo do protocolo da instituição e do tipo de cateter) quando o cateter não está em uso contínuo (o chamado "flush de manutenção").
O que usar para o flush?
Solução Salina Normal (0,9% de Cloreto de Sódio): É a solução mais comumente usada e recomendada para a maioria dos flushes de rotina.
Seringas: Utilize seringas de 10 mL ou maiores. Seringas menores (como de 3 mL ou 5 mL) geram uma pressão maior por centímetro quadrado e podem danificar o cateter ou causar oclusões.
Heparina/Citrato (Opcional, Dependendo do Protocolo): Em alguns cateteres de longa permanência ou em situações específicas, pode-se usar uma solução de heparina diluída ou citrato após o flush com salina, para manter a permeabilidade por mais tempo, especialmente em lúmens que não serão usados por um período.
Como fazer o flush (Passo a Passo da Técnica):
Higienização das Mãos: Lave as mãos com água e sabão ou utilize álcool em gel.
Preparação do Material: Reúna a seringa pré-preenchida com solução salina (ou prepare a seringa com o volume adequado)
Desinfecção da Conexão: Esfregue vigorosamente a "tampa" (hub) do cateter (a parte que você conecta a seringa) com um swab com álcool 70% ou clorexidina por pelo menos 15 segundos e deixe secar ao ar. Esta é uma etapa CRÍTICA para prevenir infecções.
Conectar a Seringa: Conecte a seringa preenchida com a solução salina ao hub do cateter, de forma firme, mas suave.
Técnica Push-Pause (Empurrar-Pausar) / Pulsátil:
Não injete o líquido de uma vez. Em vez disso, injete a solução salina em pequenos jatos rápidos (0,5 a 1 mL), seguidos de pausas curtas.
Repita esse padrão (empurra-pausa, empurra-pausa) até que todo o volume de solução salina desejado tenha sido injetado.
Por que essa técnica? O movimento pulsátil ajuda a criar uma turbulência dentro do lúmen do cateter, desalojando coágulos ou resíduos que possam estar aderidos às paredes internas.
Manter Pressão Positiva e Clampar (se aplicável):
Ao injetar o último mL da solução salina, mantenha uma leve pressão positiva na seringa enquanto você clampa o cateter (se ele tiver um clamp) OU desconecta a seringa.
Por que isso é importante? Evita o refluxo de sangue para dentro do cateter. Se houver refluxo de sangue, ele pode coagular e entupir o cateter.
Volume do Flush: O volume recomendado geralmente é de 10 mL de solução salina para a maioria dos PICCs adultos. Em crianças, o volume é ajustado ao peso e idade, mas sempre usando seringa de 10 mL para a pressão.
Remover a Seringa: Desconecte a seringa do hub.
Dicas Importantes:
Sempre verificar a patência: Antes de infundir qualquer medicamento ou iniciar o flush, tente aspirar um pequeno volume de sangue para confirmar que o cateter está na veia e permeável.
Não forçar: Se houver resistência ao injetar o flush ou qualquer medicação, NUNCA force. Isso pode indicar uma oclusão ou posicionamento incorreto, e forçar pode danificar o cateter ou a veia. Busque auxílio profissional.
Manter a Esterilidade: Todo o processo deve ser realizado com técnica asséptica rigorosa para prevenir infecções.
O flush é uma das medidas mais eficazes para garantir a segurança e a longevidade do cateter venoso central.
6. Confirmação Pós-Inserção
A precisão na medição e, principalmente, a confirmação pós-inserção são vitais para a segurança do paciente e a eficácia do tratamento com o PICC.A confirmação da posição final da ponta do cateter é obrigatória após a inserção. Isso é feito principalmente por:
a) Radiografia de Tórax (Raio-X): O método padrão-ouro para visualizar a ponta do cateter e garantir que esteja na posição correta (na junção cavo-atrial).
b) ECG Intracavitário: Alguns sistemas de PICC permitem o uso de um eletrocardiograma (ECG) monitorado durante a inserção, que ajuda a guiar a ponta do cateter com base nas alterações da onda P, indicando a proximidade da junção cavo-atrial.
c) Fluoroscopia: Usada em alguns ambientes, oferece visualização em tempo real do avanço do cateter.
7. Pós-Procedimento:
Descarte Seguro: Descarte adequado de todos os materiais perfurocortantes e contaminados.
Documentação: Registar detalhadamente o procedimento, incluindo data, hora, tipo e tamanho do cateter, veia puncionada, comprimento inserido, intercorrências, tipo de fixação e confirmação da ponta.
Orientações ao Paciente: Fornecer instruções sobre cuidados com o curativo, sinais de alerta de complicação e restrições de movimento.
Fontes
https://www.teleflexvascular.com/files/ifu/S-00500-101A.pdf
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459338/
https://www.hospitalmetropolitano.pb.gov.br/wp-content/uploads/it.enf_.049-02-cateter-central-de-insero-perifrica-picc.pdf
https://www.me.ufrj.br/images/pdfs/protocolos/enfermagem/cateter_central_de_insercao_periferica_picc.pdf