AS CAUSAS DE HIPERTENSÃO PULMONAR
Considerações iniciais
A hipertensão pulmonar é uma síndrome clínica e hemodinâmica caracterizada por níveis pressóricos elevados na circulação pulmonar. Trata-se de uma condição rara, mas grave, acometendo entre 2 a 5 pacientes a cada milhão de adultos por ano. Cursa com remodelamento do território vascular pulmonar, levando à obliteração do pulmão e aumento da resistência vascular. Esse aumento da resistência acarreta num aumento das pressões do sistema, que, por sua vez, provoca o aumento da carga imposta ao ventrículo direito, que antes precisava de menos força para bombear sangue ao pulmão, evoluindo com insuficiência cardíaca direita. A hipertensão pulmonar ocorre quando a pressão média da artéria pulmonar (PMAP) no repouso é superior a 20mmHg. Podendo ainda ser dividida em pré-capilar e pós-capilar. Chamamos de HP pré-capilar quando a pressão de oclusão da artéria pulmonar (POAP) é menor ou igual a 15 mmHg. Enquanto a pós-capilar é aquela com POAP é superior a 15 mmHg.
Tem sobrevida média de 2,8 anos na ausência de tratamento específico, além de complicar grande parte das doenças cardíacas e respiratórias. Por isso, é de grande importância o entendimento de como se tratar tal condição. Os estudos quanto à epidemiologia ainda são escassos, mas mostram uma maior prevalência entre mulheres e indivíduos jovens. Entre as mulheres, a prevalência é maior na terceira década de vida e, entre os homens, na quarta década
Causas de HP, conforme a Organização Mundial de Saúde
As causas de hipertensão pulmonar (HP) são diversas e, por isso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a condição em cinco grupos principais, com base na origem da doença:
Grupo 1: Hipertensão arterial pulmonar (HAP)
Causada por alterações nas pequenas artérias pulmonares, com aumento da resistência vascular.
Causas:
Idiopática (sem causa conhecida)
Hereditária (mutação do gene BMPR2)
Induzida por drogas ou toxinas (ex: anorexígenos, metanfetaminas)
Doenças do tecido conjuntivo (ex: esclerodermia, lúpus)
Infecção por HIV
Esquistossomose
Hipertensão portal (ex: cirrose)
Cardiopatias congênitas (ex: CIA, CIV com shunt esquerda-direita)
Grupo 2: Hipertensão pulmonar por doenças do coração esquerdo
Causas:
Insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida ou preservada
Doença valvar esquerda (ex: estenose mitral, insuficiência mitral/aórtica)
Cardiomiopatias
Grupo 3: Hipertensão pulmonar por doenças pulmonares e/ou hipoxemia
Causas:
DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica)
Fibrose pulmonar (DPI)
Apneia obstrutiva do sono (SAOS)
Hipoventilação alveolar (ex: obesidade extrema)
Hipoxemia crônica
Grupo 4: Hipertensão pulmonar tromboembólica crônica (HPTEC)
Causa principal:
Embolia pulmonar crônica não resolvida, que leva à obstrução persistente das artérias pulmonares.
Grupo 5: Hipertensão pulmonar de mecanismos multifatoriais ou desconhecidos
Causas:
Doenças hematológicas (ex: anemia falciforme)
Doenças sistêmicas (ex: sarcoidose)
Distúrbios metabólicos (ex: doença de Gaucher)
Doenças renais crônicas
Compressão extrínseca de artérias pulmonares
Diagnóstico
A abordagem diagnóstica para HP inclui confirmação do diagnóstico, busca de doenças associadas que possam justificar e avaliação da gravidade.
A radiografia de tórax é importante na avaliação inicial. Pode mostrar doenças cardíacas e pulmonares associadas, como insuficiência cardíaca. Além disso, alguns casos de hipertensão pulmonar mostram a dilatação de artérias pulmonares com perda da vascularização periférica pulmonar, abaulamento do arco médio e aumento do átrio direito.
Radiografia em caso de hipertensão pulmonar. Nota-se dilatação do tronco da artéria pulmonar (1), índice hilar torácico (2) + (3) > 38% e artéria pulmonar esquerda > 18mm (5). Fonte: Jornal Brasileiro de Pneumologia
O eletrocardiograma pode ser normal, já que alterações só costumam ocorrer em casos graves. Os mais sugestivos de HP são: desvio do eixo para direita, onda P aumentada (onda P pulmonale) e sinais de hipertrofia de VD. Pode mostrar outras condições cardíacas.
O ecocardiograma é o melhor método não-invasivo para detecção desta síndrome. A pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP) pode ser estimada, tendo relação com a pressão média da artéria pulmonar, quando há insuficiência tricúspide. Com a estimativa da PSAP e com o pico da velocidade da regurgitação da tricúspide (VRT) pode-se medir a probabilidade HP.
Critérios propostos para estimativa de hipertensão pulmonar com base no ecocardiograma. Fonte: Sopterj
Os sinais indiretos de HP são: dilatação de cavidades direitas, aumento da velocidade de regurgitação pulmonar, tempo de aceleração na artéria pulmonar < 105ms, TAPSE<20ms e “D-shaped” septo interventricular. O ecocardiograma possibilita ainda a avaliação de fatores prognósticos e outras doenças cardíacas, como derrame pericárdico, disfunção de ventrículo esquerdo e aumento de câmaras.
Primeiros passos- doenças cardíacas e pulmonares
1) Se a possibilidade de HP for moderada ou alta, deve-se investigar a presença de doenças cardíacas e pulmonares, levando em consideração radiografia, ECG e ECO. Pode-se ainda pedir provas de função pulmonar, TC de tórax, espirometria, polissonografia e gasometria arterial para ajudar.
- Se o paciente receber diagnóstico de doença cardíaca (grupo 2) ou pulmonar (grupo 3) e a HP não tiver sinais de gravidade, trata-se apenas a doença de base.
- Se o paciente tiver doença cardíaca ou pulmonar com HP grave, deve-se encaminhar a serviço especializado em HP.
Segundo passos - se não houver doença cardíaca ou pulmonar
Porém, se o paciente não apresentar diagnóstico de doença cardíaca ou pulmonar, deve seguir avaliação com cintilografia de ventilação e perfusão pulmonar.
A cintilografia pulmonar é o exame de escolha para os pacientes com HP por tromboembolismo (grupo 4). Se nela forem vistos defeitos na perfusão não concordantes com a ventilação, é provável HP por tromboembolismo. Para eles, uma angiotomografia de tórax pode ajudar a avaliar a necessidade de cirurgia.
Se nela não forem vistos defeitos de perfusão não concordantes com ventilação, indica-se realização de cateterismo cardíaco.
O cateterismo cardíaco é o exame que possibilita a confirmação de HP. Ela é fundamental nos pacientes com HAP (grupo 1). Se nele for confirmado PMAP < 20 mmHg e POAP ≤ 15mmHg, está diagnóstico HP (grupo 1 ou 5).
Deve-se solicitar testes específicos, como o de HIV, colagenose, esquistossomose, doença cardíaca congênita e hipertensão portal (USG de abdome). Além de exames laboratoriais, para pesquisar doenças associadas ao grupo 1.
Algoritmo para avaliação diagnóstica de suspeita de hipertensão pulmonar. Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia
Fluxograma básico para investigação de Hipertensão Pulmonar (HP), que segue as diretrizes clínicas atuais (como ESC/ERS):
🔍 Fluxograma de Investigação de Hipertensão Pulmonar
1. Suspeita clínica de HP
Dispneia progressiva
Síncope
Dor torácica
Cianose ou fadiga
Sopros cardíacos ou sinais de insuficiência cardíaca direita
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2. Exame inicial:
Ecocardiograma transtorácico
Avalia pressão sistólica da artéria pulmonar (PSAP)
Analisa função ventricular direita
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3. Se ecocardiograma sugerir HP → Investigar causas:
🔹 História clínica + exames laboratoriais:
Sorologias (HIV, hepatite)
FAN, anti-Scl-70 (esclerodermia)
TSH, função hepática e renal
Gasometria arterial
🔹 Provas de função pulmonar (espirometria + DLCO)
Avalia doença pulmonar (Grupo 3)
🔹 Polissonografia (se suspeita de apneia do sono)
🔹 Angiotomografia de tórax ou cintilografia de ventilação/perfusão (V/Q)
Avalia HP tromboembólica crônica (Grupo 4)
🔹 Cateterismo cardíaco direito (obrigatório para confirmação diagnóstica)
Pressão média da artéria pulmonar ≥ 20 mmHg = diagnóstico
Mede pressão capilar pulmonar e resistência vascular (ajuda na classificação)
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4. Classificação em Grupo (1 a 5) conforme achados
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5.Tratamento específico de acordo com o grupo identificado
Cateterismo de ventrículo direito
O cateterismo de ventrículo direito (ou cateterismo cardíaco direito) é um exame essencial para avaliar a hemodinâmica do coração direito e da circulação pulmonar, especialmente em casos de suspeita ou confirmação de hipertensão pulmonar (HP).
✅ Indicações clássicas do cateterismo de ventrículo direito:
1. Confirmação diagnóstica de hipertensão pulmonar (HP)
Pressão média da artéria pulmonar (PAPm) ≥ 20 mmHg define HP.
Diferencia entre:
Pré-capilar (ex: HAP – Grupo 1)
Pós-capilar (ex: IC esquerda – Grupo 2)
Avaliação da resistência vascular pulmonar e pressão capilar pulmonar (PCP)
Obrigatório antes de usar vasodilatadores pulmonares (ex: prostanoides, inibidores da endotelina).
Realizado durante o cateterismo em alguns pacientes (ex: uso de óxido nítrico inalatório ou adenosina).
Identifica candidatos à terapia com bloqueadores de canal de cálcio.
Ex: paciente com DPOC leve e sinais graves de HP — investigar outra causa.
Diagnóstico diferencial com HP e para medir pressão de enchimento ventricular.
Ajuda a calcular o Qp/Qs (relação entre fluxo pulmonar e sistêmico)
Em casos que exigem análise detalhada das pressões intracardíacas
Arritmias instáveis
Coagulopatia sem correção
Hipotensão grave
Infecção no local de punção
Fontes
https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/protocolos/resumidos/PCDTResumidoHipertensoPulmonar.pdf
https://www.eumedicoresidente.com.br/post/hipertensao-pulmonar
https://abraf.ong/o-que-e-hipertensao-pulmonar/?gad_source=1&gad_campaignid=15582073141&gbraid=0AAAAADGG4jalyftzvnUxu0Roi1zpmXauy&gclid=Cj0KCQjw0qTCBhCmARIsAAj8C4b-Cl-EyXycX_6M2xxXgj4ABAlviXndsDPpTYzeYSwTmxfku2HB-jEaAmnEEALw_wcB
https://www.med.club/artigos/hipertensao-pulmonar