queenm med blue red2.png

A Imunofenotipagem na Classificação dos Linfomas?

Considerações iniciais

A imunofenotipagem é uma ferramenta diagnóstica crucial na determinação dos tipos de linfoma, pois permite identificar as características específicas das células malignas com base nas proteínas que elas expressam em sua superfície, no citoplasma ou no núcleo. Essas proteínas são chamadas de marcadores antigênicos (ou marcadores de diferenciação, CD - Cluster of Differentiation).

O processo geralmente envolve a utilização de uma técnica chamada citometria de fluxo ou, em casos de biópsias de tecido, a imuno-histoquímica.

1. Coleta da Amostra:

A imunofenotipagem é realizada em amostras biológicas que contêm as células suspeitas. Para linfomas, isso geralmente significa:

Biópsia de linfonodo (gânglio linfático): É a amostra mais comum e preferencial, pois o linfoma se origina e se localiza frequentemente nesses órgãos.

Biópsia de medula óssea: Utilizada para verificar o envolvimento da medula.

Aspirado de medula óssea: Complementar à biópsia de medula.

Sangue periférico: Em casos de leucemias/linfomas com células circulantes (como leucemia linfocítica crônica/linfoma linfocítico de pequenas células).

Outros líquidos corporais: Como líquido cefalorraquidiano (LCR) ou líquido pleural, se houver suspeita de envolvimento nesses locais.

 

2. Preparação da Amostra:

As células da amostra são isoladas e colocadas em suspensão.

Marcação com Anticorpos Fluorescentes: As células são então incubadas com anticorpos monoclonais específicos. Cada um desses anticorpos é projetado para se ligar a um marcador antigênico específico e está ligado a um fluorocromo (uma molécula que emite luz de uma cor específica quando excitada por um laser).

 

3Análise por Citometria de Fluxo (ou Imuno-histoquímica):

Citometria de Fluxo: Se a amostra é líquida (sangue, medula, LCR), as células marcadas passam uma a uma por um feixe de laser. Os detectores do citômetro registram a luz dispersa (que informa sobre o tamanho e complexidade interna da célula) e as diferentes cores de fluorescência emitidas. Isso permite que o analista determine quais marcadores as células estão expressando e em que intensidade.

Imuno-histoquímica: Se a amostra é um tecido sólido (biópsia), os anticorpos são aplicados diretamente em cortes finos do tecido. A ligação dos anticorpos é visualizada através de uma reação de cor (não fluorescência) sob um microscópio, permitindo identificar os marcadores nas células dentro da estrutura tecidual.

 

4Interpretação dos Resultados:

Com base no painel de marcadores expressos, o hematopatologista pode determinar a linhagem celular (se é um linfoma de células B, T ou NK), o estágio de maturação das células malignas e a presença de marcadores aberrantes que indicam malignidade.

 

Principais Marcadores Utilizados e Exemplos de Tipos de Linfoma:

A classificação dos linfomas é complexa e baseia-se na Classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS), que integra dados morfológicos (ao microscópio), imunofenotípicos, genéticos e clínicos. A imunofenotipagem é crucial para a linhagem:

  • Linfomas de Células B (a maioria dos linfomas não Hodgkin)

Os linfomas de células B expressam tipicamente marcadores pan-B (comuns a todas as células B) e outros marcadores que ajudam a subcategorizar o linfoma.

Marcadores Pan-B: CD19, CD20, CD22, CD79a, CD79b. (O CD20 é um alvo importante para algumas terapias).

Marcadores de Subtipos e Estágios de Maturação:

CD5: Presente na Leucemia Linfocítica Crônica (LLC)/Linfoma Linfocítico de Pequenas Células (LLPC) e Linfoma de Células do Manto.

CD10: Marcador de centro germinativo, presente no Linfoma Folicular e em alguns Linfomas Difusos de Grandes Células B (LDGCB).

BCL-2, BCL-6, MUM1 (IRF4): Indicam subtipos moleculares de LDGCB.

Cadeias Leves de Imunoglobulina (Kappa ou Lambda): A expressão restrita a apenas uma cadeia (clonalidade) é um forte indicativo de malignidade em linfomas de células B maduras.

Exemplos de perfis:

Linfoma Difuso de Grandes Células B (LDGCB): CD19+, CD20+, CD22+, CD79a/b+. A expressão de CD10, BCL-6 e MUM1 ajuda a diferenciar os subtipos (Centro Germinativo-like vs. Ativado-B-like), o que tem implicações prognósticas.

Linfoma Folicular: CD19+, CD20+, CD10+, BCL-2+.

Leucemia Linfocítica Crônica/Linfoma Linfocítico de Pequenas Células (LLC/LLPC): CD19+, CD20+ (geralmente fraco), CD5+, CD23+.

Linfoma de Células do Manto: CD19+, CD20+, CD5+, CD23-.

  • Linfomas de Células T e NK

Os linfomas de células T e NK expressam marcadores pan-T ou marcadores de células NK.

Marcadores Pan-T: CD2, CD3, CD5, CD7.

CD3: É o marcador pan-T mais específico (citoplasmático para precursores, de superfície para maduros).

CD4 e CD8: Indicam o subtipo de célula T (T-helper ou T-citotóxica).

Marcadores de Células NK (Natural Killer): CD56, CD16

Marcadores de Subtipos e Aberrações:

CD30: Frequentemente positivo no Linfoma Anaplásico de Grandes Células (LAGC) e também nas células de Reed-Sternberg do Linfoma de Hodgkin.

ALK: Uma proteína que indica um subtipo específico e prognóstico favorável de LAGC.

Exemplos de perfis:

Linfoma de Células T Periférico Sem Outra Especificação (SOE): Expressão de marcadores pan-T, mas sem um perfil distinto para outro subtipo específico de linfoma T.

Linfoma Anaplásico de Grandes Células (LAGC): CD30+, ALK+/-.

Leucemia/Linfoma de Células T do Adulto: CD3+, CD4+, CD25+.

  • Linfoma de Hodgkin

O Linfoma de Hodgkin é uma entidade distinta e não é classificado primariamente como linfoma B ou T, embora as células de Reed-Sternberg (as células malignas características do Hodgkin) sejam de origem B na maioria dos casos.

Células de Reed-Sternberg (HRS): São tipicamente CD30+ e CD15+, e geralmente negativas para marcadores pan-B (CD20) e pan-T (CD3), embora possa haver exceções. A expressão de PAX5 (fraca) e EBV (em alguns casos) também é relevante.

A imunofenotipagem, combinada com a morfologia celular e, cada vez mais, com testes genéticos/moleculares, é essencial para o diagnóstico preciso, a classificação dos subtipos de linfoma e a determinação do melhor plano de tratamento e prognóstico para o paciente.

Classificação dos Linfomas não Hodgkin

A imunofenotipagem (citometria de fluxo ou imuno-histoquímica) é fundamental para classificar os linfomas não Hodgkin (LNH) conforme a linhagem celular de origem. Basicamente, eles se dividem em linfomas de células B, de células T e de células NK.

🔬 Tipos de LNH baseados na imunofenotipagem

🟦 Linfomas de células B (≈ 85–90% dos LNH)

CD19, CD20, CD79a, PAX5 positivos.

Exemplos:

Linfoma difuso de grandes células B (LDGCB) – o mais comum.

Linfoma folicular.

Linfoma de Burkitt (CD10+, translocação t(8;14)).

Linfoma do manto (Cyclin D1+, t(11;14)).

Linfoma da zona marginal.

LLC/Linfoma linfocítico de pequenas células (SLL).

Plasmocitoma/Mieloma múltiplo (diferenciação plasmocitária).

 

🟥 Linfomas de células T (≈ 10–15% dos LNH)

CD2, CD3, CD5, CD7 positivos (dependendo do subtipo).

Exemplos:

Linfoma periférico de células T, não especificado.

Linfoma anaplásico de grandes células (ALCL, ALK+ ou ALK−).

Micose fungoide / Síndrome de Sézary (cutâneos).

Linfoma angioimunoblástico de células T.

 

🟩 Linfomas de células NK / T-NK

Expressam CD56, CD16, CD57, além de marcadores T em alguns casos.

Exemplo:

Linfoma extranodal NK/T tipo nasal (associado ao EBV).

Os principais linfomas não Hodgkin organizados pela imunofenotipagem (CDs) e subtipo:

linfomas subtippos2.jpg

Dica de memorização rápida:

Células B → mais comuns (difusos de grandes células, folicular, Burkitt, manto) → CD19, CD20, CD79a, PAX5

 

Marcadores específicos:

Cyclin D1 → Manto

CD10/BCL2 → Folicular

CD30 → ALCL

CD23 → LLC/SLL

Células T → menos comuns (periféricos, cutâneos, anaplásico)  → CD2, CD3, CD5, CD7

Células NK/T → raros (linfoma nasal extranodal associado ao EBV).

 

NK-cell → CD16, CD56, CD57

 

Fontes

Armitage, J. O., Gascoyne, R. D., Lunning, M. A., & Cavalli, F. (2017). Non-hodgkin lymphoma. The lancet, 390(10091), 298-310. doi: 10.1016/S0140-6736(16)32407-2

Connors, J.M., Cozen, W., Steidl, C. et al. (2020) Hodgkin lymphoma. Nat Rev Dis Primers 6, 61 . doi: 10.1038/s41572-020-0189-6

AMERICAN CANCER SOCIETY. Linphomas. 2022. Disponível em: https://www.cancer.org/cancer/lymphoma.html. 

https://www.htct.com.br/pt-a-citometria-de-fluxo-como-articulo-resumen-S2531137921008920

https://accamargo.org.br/sobre-o-cancer/tipos-de-cancer/linfoma-nao-hodgkin

https://www.pesquisaclinica.roche.com.br/pt/trials/cancer/non-hodgkins-lymphoma.html