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Colite pseudomembranosa - diagnóstico

Considerações iniciais

 

Clostridium difficile é o principal patógeno associado à diarreia relacionada à antibiótico e/ou colite pseudo membranosa em pacientes hospitalizados, sendo um bacilo anaeróbico gram-positivo formador de esporos (altamente resistentes). Característica que permite o bacilo persistir no ambiente físico e no paciente por longos períodos e facilitar a transmissão oral-fecal.
C.difficile pode liberar duas toxinas de alto peso molecular: Toxina A e B, que são responsáveis pelas manifestações clínicas, que variam de diarreia leve até a morte.A microbiota bacteriana do cólon em adultos saudáveis é resistente à colonização do Clostridium. A colonização e a ligação à mucosa intestinal é facilitada pelo uso da antibioticoterapia com alteração do equilíbrio da microbiota intestinal. A produção da toxina A e B estimula a produção de fator de necrose tumoral e aumento da permeabilidade vascular. O intenso processo inflamatório resulta na destruição da lâmina própria intestinal, impedindo a absorção de nutrientes. Já a Clostridium difficile Glutamato Desidrogenase (GDH) é uma enzima produzida em larga quantidade por todas as cepas toxinogênicas e  não toxinogênicas, tornando-se um excelente marcador para o organismo. 

O diagnóstico de colite pseudomembranosa (forma grave da infecção por Clostridioides difficile) é feito pela combinação de quadro clínico + exames laboratoriais de toxina + imagem ou endoscopia, quando necessário. Conforme recomendado pela Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ESCMID), Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA) e Sociedade Americana de Epidemiologia (SHEA), o diagnóstico deve basear-se na apresentação clínica e investigação laboratorial do paciente com base em um algoritmo de 2 steps:

O primeiro teste para detecção de GDH classifica de forma confiável e altamente sensível as amostras com um resultado de teste como não ICD.

O segundo teste é o teste reflexo em amostras com resultado positivo para o primeiro teste. O teste para detecção da Toxina A/B, além de ser mais específico, tem a diferenciação da Toxina. As amostras com resultado positivo são classificadas como ICD.

1. Clínica compatível (essencial)

Normalmente ocorre após:

Uso recente de antibióticos (clindamicina, quinolonas, cefalosporinas, penicilinas)

Internação ou doença grave

Sintomas típicos:

Diarreia aquosa intensa

Dor abdominal

Febre

Leucocitose (↓ ou ↑ > 15.000 a 20.000)

Aumento de creatinina

Distensão abdominal (risco de megacólon tóxico)

 

2. Testes laboratoriais que confirmam a infecção pelo C. difficile

Algoritmo padrão:

GDH (antígeno) → muito sensível

Toxina A/B (EIA) → específica

PCR (tcdB) → desempate

Interpretação:

GDH + Toxina + → Infecção confirmada

GDH + Toxina – PCR + → Infecção provável

GDH + Toxina – PCR – → Colonização (não é colite)

🛑 Para diagnóstico de colite pseudomembranosa, tem que haver toxina positiva ou PCR + com quadro clínico.

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Um teste GDH positivo para Clostridioides difficile não indica necessariamente infecção ativa.

Ele significa apenas:

GDH positivo = o paciente tem o antígeno da enzima presente no C. difficile (bactéria está lá).

Mas isso não diferencia:

Colonização (a bactéria está no intestino mas não está produzindo toxina → sem doença) de Infecção verdadeira (C. difficile infection – CDI), quando há toxina produzida e sintomas.

 

🔍 Por que GDH não indica infecção ativa?

GDH é muito sensível, detecta praticamente qualquer cepa de C. difficile. Porém não é específica, pois detecta tanto cepas toxigênicas quanto não toxigênicas. E mesmo cepas toxigênicas podem estar presentes sem produzir toxina → paciente colonizado.

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3. Exames de imagem (não são obrigatórios, mas ajudam)

TOMOGRAFIA DE ABDOME

Achados típicos:

Espessamento colônico difuso

“Thumbprinting”

Ascite

Prega mucosa espessada

“Accordion sign”

Serve para avaliar gravidade e complicações:

Megacólon tóxico

Perfuração

Colite fulminante

 

4. Diagnóstico endoscópico (padrão ouro VISUAL)

Colonoscopia ou retossigmoidoscopia pode mostrar:

Placas amareladas aderidas (pseudomembranas)

Ulcerações

Mucosa friável

Mas não é necessária em todos os casos, porque:

Pode ser perigosa em megacólon tóxico

O diagnóstico geralmente é feito pelos testes de toxina. Hoje, a endoscopia é reservada para:

Casos duvidosos

Testes laboratoriais inconclusivos

Suspeita de outras doenças associadas

Fontes

Crobach M.J.T., et al. “European Society of Clinical Microbiology and Infectious Diseases: update of the diagnostic guidance document for Clostridium difficile infection”. Clinical Microbiology and Infection. 2016, 22: 63 – 81

https://ecodiagnostica.com.br/sem-categoria/clostridium-difficile-informacoes/

https://www.tadeclinicagem.com.br/guia/234/diagnostico-de-infeccao-pelo-clostridioides-difficile/