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ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE PARTO NATURAL

 

 

Definição de trabalho de parto

É o processo fisiológico no qual o útero gravídico, após contrações, expulsa um feto com idade gestacional superior a 20 semanas.

 

Definição de trabalho de parto verdadeiro e critérios de admissão :

A paciente ao ingressar na emergência com suspeita de trabalho de parto deve ser examinada pesquisando-se os seguintes sinais:

a) Queixa de cólica, coincidente com todas as contrações uterinas;

b) eliminação de muco cervical

c/ raios de sangue ou líquido aminiótico;

c) alterações de colo uterino ( dilatação e apagamento)

 

Há que se fazer o diagnóstico diferencial, entre o trabalho de parto verdadeiro e o falso trabalho de parto, para evitar internação desnecessária.entificar clinicamente se é

 

Fase de latência ou fase ativa.

Não internar paciente na fase de latência, mas se alguma circunstância clínica ou social exigir, não abrir partograma, colocando-se o motivo da admissão na folha de evolução.

Proceder internação com abertura de partograma (conforme rotina específica), para as pacientes que estiverem na seguinte situação clínica:

Colo apagado e dilatado para 03 cm e com pelo menos 02 contrações fortes e generalizadas em dez minutos ( Tríplice gradiente descendente)

 

As pacientes de risco devem ser admitidas independente de estarem ou não em trabalho de parto, até a identificação adequada e tratamento da patologia.

 

Em pacientes multíparas, deve-se dar mais crédito a dinâmica uterina em detrimento da cervicodilatação. Nas primíparas a dilatação deve ser mais valorizada que as contrações uterinas. Procedendo desta forma, evitaremos admitir indevidamente pacientes multíparas com 03cm ou mais de dilatação em falso trabalho de parto, bem como, primíparas com boa frequencia de contrações, na fase latente do trabalho de parto.

 

PREPARO DA PARTURIENTE

Após decidido a internação, com diagnóstico firmado de trabalho de parto ativo, a paciente deve ser encaminhada para realizar:

  • É importante salientar que a tricotomia e o enteroclisma, procedimentos amplamente utilizados no passado, são considerados, na atualidade, como práticas claramente prejudiciais ou ineficazes, devendo ser eliminado o seu uso rotineiro 
  • Banho geral. – SE NECESSARIO
  • Vestes apropriadas ( batas).
  • Encaminhamento para o centro obstétrico, quando em trabalho de parto ativo.
  • Dieta zero.

 

TRIAGEM NA SALA DE PARTO E APOIO PSICOLÓGICO

Ao ingressar no centro obstétrico, a paciente deve ser avaliada pelos médicos plantonistas. Em caso de adolescentes ou outras parturientes onde a intensidade da dor prejudicar a evolução do parto ou a avaliação clínico-obstétrico adequada, realizar analgesia ou anestesia , conforme o caso:

 

POSTURA DA PACIENTE NO PRÉ-PARTO

A paciente no pré-parto deve ser orientada a deambular livremente até 07 cm de dilatação, quando então permanecerá em Decúbito lateral esquerdo, recebendo massagens a cargo da equipe responsável .Nesta posição teremos aumento da intensidade e diminuição da frequencia das contrações uterinas. Está comprovado que as alterações da frequencia cardíaca fetal, além de serem menos freqüentes no decúbito lateral esquerdo, são corrigidas quando este decúbito substitui a posição supino

 

PRIMEIRA FASE DO PARTO - DILATAÇÃO

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Figura 1: Diferenças entre as diversas etapas de dilatação cervical

 

Durante a gravidez, o colo do útero fica fechado. Para o bebê nascer, o colo precisa abrir até alcançar 10 cm. Isso se chama de dilatação cervical. Os exames vaginais (toque) fornecem informações sobre a dilatação e a espessura do colo, e a posição da cabeça do bebê na bacia da mãe. Esse tipo de exame faz parte da avaliação da evolução da mulher em trabalho de parto. Porém, a dilatação do colo não é um bom método para predizer exatamente quando a mulher vai dar à luz.

 

Durante o exame vaginal (toque), realizado pelo médico obstetra ou enfermeiro obstetra, são avaliados:

• Dilatação, apagamento e consistência do colo uterino.

• Apresentação, posição e descida fetal; membranas amnióticas e líquido da bolsa; proporcionalidade feto-pélvica.
• Presença de fezes no reto.

 

Os toques vaginais subsequentes ao da admissão na maternidade podem ser adiados até a fase ativa do trabalho de parto

 

 

CUIDADOS QUANTO AO TOQUE VAGINAL

Devem ser utilizados com parcimônia quando há suspeita ou confirmação de amniorrexe prematura (bolsa amniótica que se rompe antes do início do trabalho de parto).

 

Quando existe sangramento vaginal, o toque deve ser realizado de forma controlada, pois pode se tratar de placenta prévia, condição em que o toque pode provocar piora do sangramento, com possíveis repercussões maternas e fetais 

 

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Figura 2: Diferenças entre os padrões de dilatação durante o trabalho de parto em primíparas e multíparas.

 

 

MONITORIZAÇÃO DOS BATIMENTOS CARDIACOS FETAIS (BCF)

 

O controle rigoroso da FCF durante o trabalho de parto assegura, na maioria dos casos, a adoção de medidas apropriadas para garantir o nascimento de uma criança em boas condições. O controle periódico da requência cardíaca feral (FC, mesmo na gestação de baixo risco, é imprescindível. Na fase latente do trabalho de parto e no início da fase ativa, esse controle deve ser feito a cada 60 minutos. Este intervalo deve ser reduzido para 30 minutos de acordo com a progressão da fase ativa do trabalho de parto.

Nas gestações de baixo risco, a monitorização contínua da FCF pode limitar a movimentação da parturiente e gerar intervenções desnecessárias.

Casos de excesso de contratilidade uterina (taquissistolia, hipertonia) espontânea ou iatrogênica podem levar ao sofrimento fetal agudo que se instala em poucos minutos, o que exige a vigilância contínua da FCF até que o quadro seja revertido. Nestes casos, é desejável o uso de monitores fetais na vigilância contínua da FCF, mas estes podem ser substituídos pela presença do profissional de saúde ao lado da parturiente e sua avaliação, com a vantagem de que essa presença pode contribuir para a tranquilização da parturiente e, consequentemente, a resolução mais rápida da hipercontratilidade uterina

 

UTILIZAÇÃO DO PARTOGRAMA

Funções primordiais do partograma:

  • Diagnosticar as desproporções céfalo-pélvicas de forma gráfica, fugindo da conduta por intuição.
  • Indicar com precisão o uso de ocitocina em caso de distócia motora.
  • Acesso fácil aos dados da evolução do trabalho de parto em troca de plantões.
  • Clareza na identificação de sofrimento fetal.

O controle da dinâmica uterina, cervico-dilatação, BCF e descida da apresentação serão feitos através do Partograma que hoje se constitui em método comprovadamente útil no acompanhamento da evolução clínica do 1o período do trabalho de parto. 

 

O cervicograma deve ser iniciado, anotando-se a dilatação 1 h antes da linha de alerta e os toques seguintes a cada 2 h c/ B.I. ou a cada 3 h com B.R.

 

Quando na evolução da dilatação, a linha de alerta for ultrapassada, devemos avaliar o caso no tocante a proporcionalidade feto-bacia, no sentido de promover amniotomia c/ análise macroscópica do líquido amniótico e a utilização de infusão de ocitocina 5 U.I. em 500 ml, de S.G.5% a 10 gts/min. Aumentar infusão gradativamente a cada 20 minutos até um máximo de 05 contrações em 10 minutos.

 

Os Batimentos cardiacos ferais (BCF) devem ser verificados a cada hora, 20 segundos antes, durante e até 20 segundos após a contração, com o objetivo de detectar alterações ( DIP I, DIP II ou DIP umbilical grave)

O estetoscópio de Pinnard encontra-se em desuso e só possui utilidade na identificação do foco máximo de ausculta. A análise de BCF com este estetoscópio é descontínua e, por vezes, negativa durante as contrações uterinas intensas, condição em que é factível com o Sonnar Doppler l.

 

AMNIOTOMIA

Lembrar que a aminiotomia é um recurso importante, quando a evolução do trabalho de parto ultrapassar a linha de alerta e deve ser praticada ao nível superior da bolsa das águas com polo cefálico encaixado ou bem ajustado, colo apagado (reduz trauma do cérvice) e no final de uma contração uterina.Os dedos indicador e médio serão mantidos dentro da vagina pressionando-se a região hipotenar de encontro a vulva evitando assim o escoamento rápido do Líquido aminiótico com seu mais temível inconveniente : O Prolapso de cordão

 

IDENTIFICAÇÃO E CONDUTA NO PERÍODO EXPULSIVO - SEGUNDA FASE DO TP

Admite-se iniciada a fase expulsiva do parto, quando a parturiente executa esforços expulsivos involuntários. A dilatação está completa e a apresentação insinuada, pressionando os feixes internos dos músculos elevadores do ânus ( abaulamento perineal).

Neste momento, a paciente deve ser conduzida à sala de parto deambulando ou através de cadeira de rodas .

Lembrar que a sala de parto é um ambiente cirúrgico, devendo-se obedecer as regras de antissepsia de pessoal e material ( máscaras, gorros e óculos )

 

 

POSIÇÃO  DA PARTURIENTE

Não existe uma posição ideal. Existe a posição que faz você ficar mais confortável no momento. 

No entanto existe uma posição menos adequada, que no caso é a posição de litotomia, onde a mulher fica totalmente deitada, em 180°. Pois nesse caso, além de não ter o auxílio da gravidade, a biomecânica da pelve não favorece a saída do bebê, uma vez que o peso da mãe e do bebê ficam concentrados na pelve, principalmente no sacro, dificultando o encaixe e descida do bebê. Mas nem por isso essa é uma posição proibida. Se a mulher está confortável, isso é o mais importante.

 

Por outro lado, existem sim posições que podem favorecer esse momento e ajudar no expulsivo. Nesse caso, podemos dizer que todas as posições em que a gestante está na vertical são favoráveis, por conta da ajuda da gravidade.

Uma das opções é a posição ginecológica semi sentada( angulo mínimo de 45o )

 

 

 

Entre as vantagens da posição semi-sentada (verticalizada) podemos citar:

  • Favorecimento da respiração .
  • Maior atividade uterina.
  • Ação da gravidade.
  • Melhor índice de Apgar.
  • Dilatação e expulsão mais rápida.
  • Melhor fluxo uteroplacentário ( correção da compressão aorta-cava inferior)

 

Não deve ser esquecido o acompanhamento dos BCF em período expulsivo prolongado, pois bradicardias severas indicam medidas ativas de extração fetal. Existem fortes evidências científicas que lesões neurológicas importantes advém de período expulsivo prolongado com hipóxia fetal prolongada.

 

Este período, (Expulsão) ocorre o aumento dos riscos fetais, devido à compressão do polo cefálico na passagem pelo canal de parto, associada à diminuição da circulação uteroplacentária, pelas contrações uterinas mais intensas e frequentes, favorecendo a hipóxia e a acidose fetal. Portanto, a monitorização efetiva do bem-estar fetal deve ser realizada pela ausculta da FCF de forma intermitente, principalmente com o uso do sonar Doppler. A avaliação pode indicar sofrimento fetal – quando a FCF é menor que 100 batimentos por minuto (bpm) em três contrações consecutivas ou quando há taquicardia fetal com FCF superior a 160 bpm.


Com relação aos fenômenos mecânicos do parto, no período expulsivo ocorrem à descida e rotação da cabeça (que acontecem tanto no período de dilatação quanto no período expulsivo), além do desprendimento da apresentação e demais partes do feto, conforme mostrado na figura abaixo.

 

EPISIOTOMIA

Antes da realização da episiotomia é feita a anestesia local através de bloqueio do nervo pudendo bilateralmente. Caso a apresentação já esteja solicitando em demasia o períneo, faz-se a anestesia no local onde se praticará a epsiotomia .

Apesar da episiotomia médio lateral ser de sutura mais difícil, provocar maior perda sanguínea, ser mais dolorosa no puerpério e nem sempre ter excelente resultado anatômico . Esta escolha se deve a maior frequencia de lacerações anais e retais na episiotomia mediana.

 

DESPRENDIMENTO DA CABEÇA

No momento do desprendimento da cabeça o nariz e a boca devem ser delicadamente aspirados com uma pêra de borracha.Verifica-se então a presença de cordão umbilical no pescoço. Caso positivo e estando a circular frouxa desfaze-la, se apertada em demasia promover a secção do cordão umbilica

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RECEPÇÃO DO NEONATO

Criança saudável ( Apgar ³ 7 e ausência de mecônio), colocar sobre o abdome materno com secagem do R.N. para evitar perdas excessivas de calor. Apgar abaixo de 07 entregar aos cuidados do Neonatologista.

 

CLAMPEAMENTO DO CORDÃO UMBILICAL

 

Ensaios clínicos randomizados avaliaram os efeitos do clampeamento do cordão umbilical imediato versus tardio, utilizando como um novo corte de 30-60 segundos após nascimento, tendo como resultados: aumento nos níveis de hemoglobina no nascimento, melhora dos estoques de ferro nos primeiros meses de vida, diminuição das taxas de hemorragia intraventricular e enterocolite necrotizante em bebês prematuros.

Nesse ínterim, diversas organizações se posicionaram recomendando o clampeamento tardio do cordão, por exemplo, a OMS recomenda após 1 minuto do nascimento em bebês nascidos a termo ou prematuros que não requerem ventilação com pressão positiva. 

Diretrizes recentes do Programa de Reanimação Neonatal da Academia Americana de Pediatria recomendam o clampeamento do cordão umbilical retardado por pelo menos 30–60 segundos para a maioria dos bebês nascidos a termo e prematuros. O Royal College of Obstetricians and Gynecologists também recomenda retardar o clampeamento do cordão umbilical para crianças saudáveis ​​a termo e prematuros por pelo menos 2 minutos após o nascimento. 

 

  • É recomendado um atraso no clampeamento do cordão umbilical em bebês nascidos a termo e prematuros por, pelo menos, 30-60 segundos após o nascimento:
  • Há um pequeno aumento na incidência de icterícia que requer fototerapia em bebês nascidos a termo e que, a equipe obstétrica deve estar atenta quanto ao monitoramento e possível tratamento da icterícia neonatal.
  • Não há associação com aumento de risco de hemorragia pós-parto.

 

No entanto, quando há risco aumentado de hemorragia, por exemplo, placenta prévia ou descolamento prematuro da placenta, os benefícios  do clampeamento tardio do cordão umbilical precisam ser equilibrados com a necessidade de estabilização hemodinâmica oportuna da mulher.

  • Até o momento não há evidências suficientes para apoiar a prática em gestações múltiplas. 

 

 

DEQUITACAO

Terceiro período do parto,  inicia-se imediatamente após o nascimento do RN e termina com a liberação da placenta e membranas. Com tempo médio de 30 minutos. 

Reconhecer sinais de descolamento placentário:

  • Elevação do fundo uterino.
  • Esguicho de sangue pela vagina.
  • Alongamento do cordão umbilical.
  • Manobra de Küstner.

Devemos evitar massagens uterinas e outras manipulações (como tracionar o cordão) até que estejam presentes os sinais de descolamento placentário. As manobras para o descolamento aumentam o risco de inversão uterina e de retenção de restos.

A extração manual de placenta deve ser indicada quando a dequitação não ocorrer após o período de 1 h ou, em menor tempo, se ocorrer Sangramento transvaginal  profuso. Medidas de reposição volêmica e o uso de ocitócicos devem anteceder a indicação de extração manual de placenta.

 

 

 

EPISIORRAFIA

Pode ser realizada episiorrafia com Cat-Gut cromado 2-0 , iniciando em primeiro lugar o plano muscular alternando, ponto a ponto, com o plano vaginal até a fúrcula. Pontos na pele perineal devem ser invertidos para diminuir incômodos na deambulação. Pode-se tolerar suturas contínuas desde que haja prolongamento de espisiotomias fazendo-se em dois planos: primeiro a síntese do plano muscular para em seguida realizar a sutura de mucosa vaginal (evitar suturas "em massa" englobando os dois planos). O toque retal é indispensável.

 

ENCAMINHAMENTO A ENFERMARIA DE PUERPERIO

Após rafia , a gestante pode ser encaminhada à enfermaria de puerpério, ressaltando-se que na primeira hora, devem ser observados sinais vitais e a presença ou não de hemorragia vaginal.

Nestes casos, infundir Ringer lactado e ocitocina 10 U.I. ,20 a 40 gotas/min. Avaliar criteriosamente necessidade de curagem ou hemotransfusão.Ver quadro abaixo.

  1. Encaminhada à enfermaria
  2. Sinais vitais de rotina
  3. Observar presença ou não de hemorragia vaginal
  4. Se sangramento : Ringer lactato

Ocitocina 10 U, 20 a 40 gotas/min

5. Se persistir – curagem ou hemotransfusao

 

Atenção: PERÍODO importante de vigilância de sangramentos pós-parto.

 

FONTES BIBLIOGRÁFICAS

 

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4552044/mod_resource/content/1/Aula%20Per%C3%ADodos%20Cl%C3%ADnicos.pdf

https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/11610/mod_resource/content/1/un03/top02p01.html

https://www.sanarmed.com/fases-do-trabalho-de-parto-colunistas

https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/11609/mod_resource/content/1/un02/top02p01.html

https://pebmed.com.br/acog-atualiza-recomendacao-sobre-clampeamento-do-cordao-umbilical/#:~:text=No%20entanto%2C%20novos%20ensaios%20cl%C3%ADnicos,ferro%20nos%20primeiros%20meses%20de

https://www.msdmanuals.com/home/multimedia/figure/ped_umbilical_cord