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Obstrução de vias aéreas - manejo em pediatria 

 

Conceitos iniciais

Ao contrário do que acontece no adulto, a obstrução da via aérea nas crianças é uma das situações mais frequente. A maioria dos casos de obstrução da via aérea nas crianças ocorre durante a alimentação ou quando as crianças estão brincando com objetos de pequenas dimensões. Muitas vezes são situações presenciadas pelo que o socorro pode ser iniciado de imediato.

 

Do ponto de vista do Suporte Básico de Vida pediátrico definem-se 3 grupos etários:

neonato – ao nascer até os 28 dias

lactente – até um ano de idade criança

 de 1 ano até à puberdade

 

Principios anatômicos 

A criança não é um adulto pequeno, tem características anatómicas e fisiológicas particulares pelo que é necessário adaptar os procedimentos de suporte básico de vida a essas mesmas características. Os princípios gerais são os mesmos que os do adulto mas com várias diferenças. A via aérea da criança se diferencia do adulto em muitos aspectos:

A. a laringe é mais cefálica (ao nível de C2-C3 ao invés de C5-C6 no adulto) e anterior em relação às vértebras cervicais;

B. a laringe tem uma conformação em funil e estrutura maleável, tornando-se facilmente colapsável e passível de compressão externa;

C. a inserção anterior das cordas vocais é mais inferior, produzindo uma angulação antero-caudal;

D. a epiglote em lactentes se projeta anteriormente em um ângulo de 45 graus tornando a intubação mais difícil;

E. a língua é relativamente grande em relação as demais estruturas da orofaringe;

F. a região subglótica apresenta um pronunciado estreitamento que pode ser objeto obstrução ou dificuldade na progressão do tubo traqueal;

G. lactentes e crianças pequenas tem uma região occipital mais protuberante, que causar excessiva flexão do pescoço, bem como uma traquéia mais curta e macia sendo propensa ao colapso.

H. a redução no raio da via aérea acarreta um aumento dramático na resistência ao fluxo de ar. Estima-se que a redução no diâmetro traqueal de 4 para 2mm, representa um aumento de 16 vezes na resistência ao fluxo aéreo (no caso de ser fluxo laminar). 

I. Quando a criança está doente, agitada e taquipnêica o fluxo se torna turbulento, e a resistência ao fluxo se tornará inversamente proporcional a quinta potência do raio. Portanto o esforço será dependente do grau de obstrução e da luz da via aérea. Nos quadros mais graves, há um intenso esforço respiratório, com tiragem inter e subcostal e até mesmo retração esternal durante a inspiração.

 

Deve-se suspeitar de obstrução da via aérea:

  • Se a alteração do estado da criança for muito súbito e não existirem outros sinais  de doença;
  • Se a criança tiver comido ou brincado com objetos de pequenas dimensões imediatamente antes do início

dos sintomas.

 

Classsificação da obstrução:

Se a obstrução é leve , ainda passa algum ar, a criança tosse, consegue falar ou chorar, faz algum ruído ao respirar e pode estar agitada. Neste caso, desde que a criança consiga tossir, não deve interferir, encorajando-a apenas a continuar a tossir.

Quando a obstrução é total, ou seja, grave , não passa ar, a criança não consegue tossir, falar ou chorar e não se ouve qualquer ruído respiratório. Pode inicialmente manter-se reativa ou já ficar inconsciente. Na obstrução total da via aérea é necessário atuar rapidamente, caso contrário a paragem cariorrespiratória (PCR) é inevitável, em breves minutos.

SEQUÊNCIA DE ATUAÇÃO – DESOBSTRUÇÃO DA VIA AÉREA – LACTENTES

1. Segure o lactente em decúbito ventral, com a cabeça mais baixa que o resto do corpo, suportando a cabeça com uma das mãos e apoiando o tórax no antebraço e /ou na coxa (neste último caso deverá estar sentado);


2. Aplique pancadas interescapulares (no dorso entre as omoplatas) com o bordo da mão, usando uma força adequada ao tamanho do lactente, com o objetivo de remover o corpo estranho. Se necessário aplique até um total de 5 pancadas interescapulares;

 

3. Se não conseguir deslocar o objeto e remover o corpo estranho com as pancadas interescapulares, passe à aplicação de compressões torácicas, em vez das 5 compressões abdominais que se efetuam caso a vítima seja um adulto, com a finalidade de deslocar o objeto;

4. Com uma mão, segure a cabeça do lactente na região occipital e rode-o em bloco, para que este fique em decúbito dorsal sobre o outro antebraço. Mantenha a cabeça a um nível inferior ao do resto do corpo;

5. Faça compressões torácicas, para bebês com menos de 1 ano, deve-se alternar cinco pancadas nas costas e cinco compressões no peito, usando a base da palma da mão, até que o corpo estranho seja expulso ou até que o bebê perca a consciência.

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6. Faça até 5 compressões, se necessário, para tentar desobstruir a via aérea;

7 . Após as 5 compressões torácicas inspecione a cavidade oral, removendo algum objeto apenas se for visível;

8. Repita sequências de 5 pancadas interescapulares,5 compressões torácicas até a obstrução ser resolvida ou ficar inconsciente. Vale reforçar que, nos menores de um ano, as compressões abdominais estão proibidas por poderem ferir órgãos internos

Enquanto não ocorrer a resolução e a vítima se mantiver consciente, a sequência deve ser mantida sem que se abandone a vítima, no entanto deve-se tentar chamar ajuda, ou enviar alguém para pedir ajuda, contactando serviços como SAMU ou bombeiros

Se a obstrução for resolvida, com a expulsão do corpo estranho, deve ser feita uma avaliação do estado da vítima. É possível que parte do corpo estranho que causou a obstrução ainda permaneça no trato respiratório. Se existir qualquer dúvida deve ser procurada melhor avaliação médica.

SEQUÊNCIA DE ATUAÇÃO – DESOBSTRUÇÃO DA VIA AÉREA – CRIANÇAS

1. Se a criança consegue respirar e tossir deve apenas encorajá-la a tossir. Se a tosse for ineficaz ou a criança desenvolver dificuldade respiratória marcada é necessário atuar rapidamente. Grite imediatamente por ajuda e avalie o estado de consciência da criança.

2. Aplique pancadas interescapulares, até um total de 5, se necessário;

 

 

3. Se a obstrução persiste efetue compressões abdominais – manobra de Heimlich, até 5 tentativas;

 

 

4. Verifique a saída de corpo estranho.

5. Repita a sequência, anteriormente descrita de 5 pancadas interescapulares e 5 compressões abdominais, até resolução da obstrução ou até a criança ficar inconsciente. A recomendação da AHA para vítimas conscientes — crianças e adultos — é alternar cinco pancadas nas costas com cinco compressões abdominais (a conhecida manobra de Heimlich).

 

 

 

Enquanto não ocorrer a resolução e a vítima se mantiver consciente, a sequência deve ser mantida sem que se abandone a vítima, no entanto deve-se tentar gritar por ajuda, ou enviar alguém para pedir ajuda, através do telefone, se ainda não foi feito. .

A manobra de Heimlich aplicada a crianças requer geralmente que o reanimador se coloque de joelhos atrás da vítima em vez de permanecer de pé ou que coloque a vítima sentada no seu colo.. A força a aplicar tem que ser adequada ao tamanho da criança

Se a obstrução for resolvida, com a expulsão do corpo estranho, deve ser feita uma avaliação do estado da vítima. É possível que parte do corpo estranho que causou a obstrução ainda permaneça no trato respiratório. Se existir qualquer dúvida deve ser procurada ajuda médica.

As compressões abdominais poderão eventualmente causar lesões internas pelo que quando tiverem sido efetuadas, pelo que a criança assim tratada deve ser examinada por um médico.