INSUFICIÊNCIA CARDIACA E NOVO MEDICAMENTO ENTRESTO (SACUBIPRIL/VALSARTANA)
Em 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a liberação para o mercado de um novo medicamento para a insuficiência cardíaca. Trata-se do Sacubipril/Valsartana, chamado comercialmente de Entresto. Estimativas apontam que o remédio é capaz de diminuir em 20% o risco de morte súbita e em 21% a taxa de hospitalização.
Mecanismo de ação
O fármaco produzido pelo laboratório Novartis com fórmula contendo os componentes bloqueador do receptor da angiotensina e neprilisina, que também controlam a pressão arterial e regulam o acúmulo de líquidos.
Além disso, a terapia inibe a degradação do Peptideo natriurético cerebral, hormônio essencial para o bom funcionamento cardíaco. Os efeitos múltiplos também são percebidos no valor do remédio. Apesar de ser comercializada no Brasil com o menor valor do mundo, a caixa com 28 comprimidos custa R$ 127.
As concentrações disponíveis são de 24mg/26mg, 49mg/51 e 97mg/103mg – o primeiro número é correspondente ao sacubitril e o segundo, à valsartana.
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) já trabalha para incluir o fármaco em suas diretrizes nacionais e integrá-lo efetivamente nas indicações de tratamento da insuficiência cardíaca. A expectativa é popularizar o acesso ao remédio que apresentar melhores respostas.
Quando indicar o novo medicamento
Apesar de a recente descoberta ter apresentado melhores resultados, o Enalapril ainda é considerado o medicamento de referência pela Anvisa. A combinação de sacubitril/valsartana só deve ser indicada quando os demais tratamentos não responderem da maneira esperada – ou em casos severos da doença. Enquadram-se neste quesito, pacientes adultos diagnosticados com a doença crônica sintomática com fração de ejeção reduzida do tipo (NYHA classe II-IV).
Segundo estimativas da SBC, cerca de 50% dos pacientes diagnosticados vai a óbito em até cinco anos. Já os demais levam uma vida de constantes internações, com readmissão hospitalar média a cada 90 dias. Vale lembrar que as internações constantes contribuem para aumentar os riscos de infecções nestes pacientes.
Pela CONITEC, foi indicada para uso no SUS para o tratamento de insuficiência cardíaca crônica em pacientes com classe funcional NYHA II e BNP > 150 (ou NT-ProBNP > 600), com fração de ejeção reduzida (FEVE < ou = 35%), idade menor ou igual a 75 anos e refratários ao melhor tratamento disponível, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS. Dada pela Portaria nº 40, publicada no Diário Oficial da União nº 153, seção 1, página 186 e 187, em 9 de agosto de 2019.
Como tomar
A dose alvo habitual recomendada é 97 mg/103 mg duas vezes ao dia (um comprimido de manhã e um comprimido à noite)., Começar tomando 24 mg/26 mg ou 49 mg/51 mg duas vezes ao dia (um comprimido de manhã e um comprimido à noite).
Se anteriormente foi usado um inibidores da ECA anteriormente, , deve-se esperar até 36 horas após sua última dose do inibidor da ECA.
Estudo que fundamentou a droga
O estudo PARADIGM-HF demonstrou o benefício adicional da introdução do Sacubitril/Valsartana (SAC/VAL) em substituição ao Enalapril no tratamento de pacientes com IC de fração de ejação reduzida, mas o desenho do estudo excluiu doentes hospitalizados. Isso porque o SAC/VAL apresenta um potente efeito vasodilatador e sempre existiu preocupação em doentes com insuficiência cardíaca direita, que geralmente encontram-se hipotensos e sob infusão de diuréticos e outros vasodilatadores.
Recentemente foi apresentado no AHA, e publicado simultaneamente no NEJM, o estudo PIONEER-HF que envolveu 881 pacientes hospitalizados por insuficiência cardíaca direita (FE ≤ 40%) que foram randomizados aleatoriamente para terapia com SAC/VAL ou Enalapril após um breve período de estabilização hemodinâmica.O desfecho primário foi a mudança na concentração basal de NT-proBNP ao longo da 4ª e 8ª semanas de terapia. Vale lembrar que o BNP não serve como biomarcador de IC em pacientes com SAC/VAL. Os desfechos de segurança foram piora da função renal, hipercalemia, hipotensão sintomática e angioedema.
A redução média na concentração do NT-proBNP foi significativamente maior no grupo SAC/VAL (variação percentual de -46,7% contra -25,3% no grupo Enalapril), evidente já na 1ª semana de terapia. O SAC/VAL também foi superior ao Enalapril no desfecho clínico secundário composto de morte, readmissão por IC, implante de dispositivo de assistência ventricular esquerda ou listagem em fila de transplante. Os desfechos de segurança não foram significativamente diferentes entre os dois grupos. Na verdade, o estudo até mostrou numericamente menos casos de angioedema com SAC/VAL, confirmado em um paciente branco, quando comparado com seis casos em pacientes afrodescendentes que recebiam Enalapril.Na prática o PIONEER-HF estendeu as descobertas do PARADIGM-HF para o cenário clínico da hospitalização por ICD, embora tenha usado o NT-proBNP como desefecho substituto. Além disso, o PIONNER-HF parece ter respondido a dúvida sobre o uso do SAC/VAL como primeira opção de bloqueio do sistema renina-angiotensina-aldosterona em doentes virgens de tratamento. Por conta disso, as diretrizes internacionais entraram em conflito sobre qual o melhor momento para iniciar o SAC/VAL (se poderia iniciar como primeira opção ou somente depois de confirmar a refratariedade ao iECA?). No PIONEER-HF em torno de 35% dos pacientes foram admitidos sem diagnóstico prévio de IC (“IC de novo”) e, portanto, não recebiam nenhuma medicação de modulação neuro-hormonal no momento da randomização o que não influenciou os resultados do estudo.
Fontes
https://secad.artmed.com.br/blog/medicina/novo-medicamento-melhora-prognostico-da-insuficiencia-cardiaca/
https://portal.novartis.com.br/UPLOAD/ImgConteudos/3770.pdf
https://cardiopapers.com.br/e-seguro-usar-entresto-no-paciente-com-insuficiencia-cardiaca-descompensada/
Velazquez EJ, Morrow DA, DeVore AD, et al. Angiotensin-neprilysin inhibition in acute decompensated heart failure. N Engl J Med. 2018;Epub ahead of print.
http://conitec.gov.br/images/Relatorios/2019/Relatorio_Sacubitril_Valsartana_ICC_FINAL_454_2019.pdf