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Feocromocitoma/ Paraganglioma - diagnóstico

Considerações iniciais

Trata-se de tumores neuroendócrinos raros, de células  cromafins, responsáveis por 0,1% a 6% das causas de HA  secundária. Quando localizados na medula adrenal, denominam-se feocromocitomas e, quando nos gânglios  simpáticos, denominam-se paragangliomas ou feocromocitomas extra-adrenais.  Em sua maioria, produzem, secretam e metabolizam as  catecolaminas, assim como diversas outras substâncias.  Ademais, caracterizam-se por sua ação hipercinética, vasoconstritora e hipovolêmica.

 

A manifestação clínica mais comum é a hipertensão arterial. O tumor pode ser originário da medula adrenal ou de tecidos extra-adrenais (paragangliomas). Seu pico de exacerbação clínica está entre a terceira e quarta década de vida, porém 10% dos casos surgem na infância. Ocorre numa proporção de 2-8 casos por milhão de habitantes e são causa rara de hipertensão (0,2-0,6%), entretanto correspondem a 4-7% dos incidentalomas das adrenais.

O tumor pode se apresentar de modo esporádico ou associado a síndromes genéticas (aproximadamente 20% dos casos), em que predominam a de Von-Hippel-Lindau, neoplasia endocrina múltipla tipo 2A e 2B, neurofibromatose tipo 1 e paragangliomas, com pelo menos seis genes de suscetibilidade (RET, VHL, NF1, SDHB, SDHD e SDHC).

Geralmente é unilateral, mas nas síndromes familiares pode ser bilateral, múltiplo e extra-adrenal, benigno ou maligno (5-26% dos casos). Essa etiologia deve ser investigada em todos os pacientes que apresentem HAR e/ou sintomas ou sinais sugestivos de liberação adrenérgica.

A hipertensão paroxística ocorre em 30% dos casos, sendo desencadeada por atividades físicas habituais, exercícios mais intensos, procedimentos cirúrgicos, e pelo uso de algumas substâncias, como antidepressivos tricíclicos, histamina e opiáceos. Os paroxismos podem ser acompanhados de cefaleia (60-90%), sudorese (55-75%) e palpitações (50-70%). Sintomas de insuficiência cardíaca e alterações no eletrocardiograma podem ser indicativos de miocardite induzida por excesso de catecolaminas, assim como infarto agudo do miocárdio e diabetes.

Quando suspeitar? 

• Hipertensão arterial (HA)  paroxística (paroxismos: palpitações, sudorese  e cefaleia) 

• HA com início antes dos 30 anos e após os 50 anos  de idade 

• HA sustentada grave e normalmente refratária ao tratamento com três classes de drogas anti-hipertensivas em  doses otimizadas, sendo uma delas um diurético tiazídico 

• HA desencadeada por fármacos (betabloqueadores clorpromazina, droperidol), cirurgias, partos ou alterações na pressão abdominal 

• Cardiomiopatia dilatada 

• HA e nódulo adrenal sugestivo de feocromocitoma/  paraganglioma na tomografia computadorizada (TC) ou  na ressonância magnética (RM) – lesão na TC com valor  de atenuação na fase pré-contraste acima de 10 UH e  washout <60% ou lesão na RM com hipersinal na  sequência T2 e ausência de perda de sinal na sequência  fora de fase 

• Síndrome de Takotsubo 

• Hipertensão com hipotensão ortostática 

• Hipotensão ortostática 

• História pessoal ou familiar de feocromocitoma ou  síndromes genéticas associadas a esse tumor, como  NEM2A, NEM2B e síndrome do Paraganglioma Familial  

• Sd. de Von Hippel Lindau (Veja quadro sobre painel genético para investigação  desses casos)

 

Diagnóstico laboratorial 

A dosagem de metanefrinas, (metabólitos das catecolaminas), tanto no plasma quanto na urina de 24h apresenta maior sensibilidade e especificidade que a dosagem direta de catecolaminas. Quando os exames laboratoriais não foram elucidativos, o teste de supressão com clonidina pode ser realizado (administração de 0,200 mg de clonidina com dosagem de catecolaminas uma hora antes e duas horas após a ingestão do fármaco). 

Como rastrear? 

Exames sanguíneos : 

• Metanefrinas plasmáticas - coleta após punção, em  posição supina e repouso de 30 minutos 

• Cromogranina A

Urina de 24 horas: 

• Metanefrinas fracionadas

Prova funcional: 

• Teste da clonidina: indicado quando a dosagem de  metanefrinas plasmáticas estiverem 2-4 vezes acima  do limite superior do valor de referência

 

Não recomendados: 

• Ácido vanilmandélico -antes amplamente utilizada no diagnóstico do feocromocitoma, pois trata-se de um importante metabólito da epinefrina e norepinefrina.

• Catecolaminas plasmáticas e urinárias

Cuidados na coleta 

É preciso suspender, nos sete dias que antecedem a  coleta, o uso de descongestionantes nasais, broncodilatadores, levodopa, antidepressivos tricíclicos, benzodiazepínicos, buspirona e antipsicóticos.

 

Painel genético para  Feocromocitoma/Paraganglioma 

Utilizando a técnica de sequenciamento de nova  geração (NGS), o teste avalia 24 genes associados a esses tumores e está indicado para todos os  pacientes com feocromocitoma/paraganglioma,  uma vez que aproximadamente 25% dos feocromocitomas e 50% dos paragangliomas apresentam  variantes alélicas patogênicas da linhagem germinativa. Além de servir para o acompanhamento dos portadores, a identificação da variante alélica patogênica auxilia o clínico na predição de  síndromes genéticas, das quais esses tumores  podem fazer parte, e na predição de aumento do  risco de malignidade. O exame ainda contribui para o  diagnóstico precoce de tumores renais, hipofisários,  pancreáticos ou outros tumores neuroendócrinos  associados à síndrome.Genes pesquisados: ATM, DLST, EGLN1, EGLN2, FH,  EPAS1 (HIF2A), HRAS, KIF1B , MAX, MDH2, MEN1 ,  MERTK , MET, NF1, RET, SLC25A11, SDHA, SDHAF2,  SDHB, SDHC, SDHD, TMEM127, TP53 e VHL (inclui  promotor).

Diagnóstico topográfico

Para o diagnóstico topográfico dos tumores e eventualmente de metástases, os métodos de imagens recomendados são tomografia computadorizada com cortes finos para adrenal e a ressonância nuclear magnética, ambas com sensibilidades próximas a 100% para tumores adrenais.

O mapeamento de corpo inteiro com 131 ou 123 Iodo-metaiodobenzilguanidina (MIBG), possui sensibilidade de 56% a 85% (tumores malignos), e alta especificidade.

O octreoscan, mapeamento ósseo e PET (com diferentes marcadores) podem ser decisivos quando os exames de localização anteriores são negativos ou na investigação de doença maligna.

Fontes

Vaidya A et al. Primary aldosteronism: stateof-the-art review. Am J Hypertension 2022.  https://doi.org/10.1093/ajh/hpac079

http://departamentos.cardiol.br/dha/revista/9-2/feocromocitoma.pdf

https://sanarmed.com/entenda-mais-sobre-o-feocromocitoma-colunistas/