OS ANTIDIABÉTICOS GLIFLOZINAS NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
Considerações iniciais
A insuficiência cardíaca é uma condição progressiva, debilitante e potencialmente fatal que ocorre quando o coração não pode fornecer fluxo sanguíneo adequado para atender as demandas do corpo por oxigênio e nutrientes ou, para isso, retém líquido determinando aumento do volume sanguíneo, acúmulo de líquido (congestão) nos pulmões e tecidos periféricos. É uma doença que afeta 60 milhões de pessoas em todo o mundo e deve aumentar à medida que a população envelhece. A insuficiência cardíaca é altamente prevalente em pessoas com diabetes, no entanto, aproximadamente dois terços de todas as pessoas com insuficiência cardíaca não tem diabetes.
A proteína SGLT-2 é responsável pela reabsorção de glicose no rim, se inibirmos essa proteína, o paciente irá perder mais glicose na urina e assim vamos ter uma diurese osmótica. Perdendo mais glicose na urina, vai acabar carregando mais líquido também. Os inibidores altamente seletivo do cotransportador de glicose 2 (SGLT2), também chamados gliflozinas, são uma classe de agentes antidiabéticos que atuam inibindo a reabsorção de sódio e glicose nos túbulos proximais. Além do controle glicêmico, eles apresentam outras propriedades pleiotrópicas, incluindo efeitos sobre o peso corporal, pressão arterial e lipídios. Os inibidores de SGLT2 empagliflozina, canagliflozina e dapagliflozina demonstraram reduzir hospitalizações por IC em pacientes com diabetes e alto risco cardiovascular
Empagliflozina
A empagliflozina é um inibidor altamente seletivo do cotransportador de glicose 2 (SGLT2), que é administrado por via oral uma vez por dia e foi o primeiro medicamento para diabetes tipo 2 que mostrou benefícios de redução de risco cardiovascular.
Os resultados positivos do estudo EMPEROR-Reduced em adultos com ou sem diabetes, com diagnóstico de insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida, mostraram que o medicamento foi associado à uma redução significativa de 25% do risco relativo de morte cardiovascular ou hospitalização devido a insuficiência cardíaca. Os dados foram apresentados em agosto de 2020 no ESC, Congresso anual da Sociedade Europeia de Cardiologia, e publicados no The New England Journal of Medicine6.
Os estudos mostraram não só a redução da hospitalização e dos casos de morte, mas também uma diminuição do risco de uma complicação renal em 50% dos casos, incluindo evolução para estágio final da insuficiência renal ou perda profunda da função dos rins
Os resultados demonstraram que a empagliflozina também proporciona uma redução de 21% no risco relativo de morte cardiovascular ou hospitalização por insuficiência cardíaca em adultos com fração de ejeção preservada (ICFEP). Um estudo anterior, o EMPEROR-Reduced, já havia comprovado benefício semelhante para indivíduos com fração de ejeção reduzida. Esses dados estabelecem a empagliflozina como o primeiro tratamento aprovado capaz de melhorar significativamente a saúde de pacientes com ambos os tipos de insuficiência cardíaca
Como usar o empagliflozina
No Brasil temos essa droga disponível com o nome de Jardiance nas apresentações de 10 mg ou 25 mg, para uso 1 vez ao dia. Há também uma apresentação associada aos inibidores de DPP-4 – a Linagliptina – chamada de Glyxambi, de 25/5 ou 10/5 mg, utilizada também uma vez por dia.
Dapagliflozina
A dapagliflozina se tornou o primeiro inibidor de SGLT2 a ser aprovado para tratar pacientes com ICFER em NYHA II-IV sem diabetes.
A dose recomendada de Dapagliflozina é 10 mg, uma vez ao dia, a qualquer hora do dia, independentemente das refeições Pesquisadores e especialistas antecipam a adoção de um regime posológico “quádruplo” para pacientes com ICFER, incluindo beta-bloqueador, antagonista do sistema renina-angiotensina (Sacubitril-Valsartana, iECA ou BRA), antagonista do receptor mineralocorticoide e inibidor de SGLT2.
EFEITOS COLATERAIS
Os efeitos colaterais mais comuns são infecções genitais – 5% desses pacientes podem apresentar – como candidíase vaginal ou balanite. Isso ocore porque vai estar eliminando mais glicose na urina, e se não tiver uma higiene apropriada vai predispor a crescer algum germe na região genital. Em relação a infecção urinária, há um aumento discreto também no sexo feminino, não houve diferença no sexo masculino comparado com placebo. Além disso o uso de Inibidores SGLT-2 pode levar também uma glicosúria com diurese osmótica e redução da pressão arterial. Isso é importante quando estamos falando de um paciente com insuficiência cardíaca. Esses pacientes muitas vezes já estão com o tratamento otimizado, muitas vezes euvolêmico e tomando alguns diuréticos. Ao iniciar um inibidor de SGLT-2, pode ser interessante reduzir ou até suspender outros diuréticos para o paciente tolerar melhor essa medicação.
Lembrando que não devemos utilizar essas medicações se tiver um clearance de creatinina menor que 30 no caso dapagliflozina ou menor que 20 no caso da empagliflozina. Não há evidências também para utilizar essa classe de medicação para paciente com Diabetes do tipo 1.
FONTES
2. 6. Packer M, Anker SD, Butler J, et al. Cardiac and Renal Outcomes With Empagliflozin in Heart Failure With a Reduced Ejection Fraction. N Engl J Med. 2020. Available at: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2022190. Acessed: September 2021
3. GBD 2015 Mortality and Causes of Death Collaborators. Global, regional, and national life expectancy, all-cause mortality, and cause-specific mortality for 249 causes of death, 1980–2015: A systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2015. The Lancet. 2016; 388(10053):1459–544.
4. Calvert MJ, Freemantle N, Cleland JG. The impact of chronic heart failure on health-related quality of life data acquired in the baseline phase of the CARE-HF study. Eur J Heart Fail. 2005 Mar 2;7(2):243-51.
5. Bocchi EA, Marcondes-Braga FG, Bacal F, Ferraz AS, Albuquerque D, Rodrigues Dde A, et al. [Updating of the Brazilian guideline for chronic heart failure - 2012]. Arq Bras Cardiol. 2012;98(1 Suppl. 1):1-33.
Portal PEBMED: https://pebmed.com.br/empagliflozina-e-aprovada-no-brasil-para-tratar-dois-tipos-de-insuficiencia-cardiaca/
6. https://cardiopapers.com.br/como-eu-uso-empagliflozina/
7. https://cardiopapers.com.br/fda-aprova-a-dapagliflozina-para-tratar-insuficiencia-cardiaca/